sexta-feira, 31 de março de 2017

TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE? - HEBER CAMPOS JR.


A Bíblia ou nossa geração goma de mascar?


Uma grande tragédia lentamente foi se apoderando de toda a nossa geração. Vivemos numa era de amigos instantâneos, relações superficiais, namoros superficiais, casamentos que se desfazem com a mesma rapidez que começaram... tudo vira humor descompromissado, tudo leve, tudo sem peso ou importância real, tudo passageiro, pulando de um entretenimento a outro, sucessos musicais instantâneos que rapidamente passam... Você está imune?

No meio disso tudo os cristãos estão perdendo completamente o senso da santidade de Deus. Oramos contra o ruído de fundo da televisão, meditamos na Palavra enquanto conversamos no Facebook, nosso senso de santidade divina é tão fraco que estamos num lugar de culto enquanto nos alongamos e mascamos nosso chiclete. Eu sei, você dirá que isso é normal, mas quando diz isso você expressa a Bíblia ou nossa geração goma de mascar? Até a defesa da verdade é mero humorismo e descontração em nossos dias - tudo por uma boa gargalhada!

Quando Jacó fugiu da casa de seu pai depois de enganá-lo, pegar o que não era seu, ele vai dormir de tão cansado. Eu diria que aquela, para ele, é uma noite profana... comum, como os dias se arrastam em nossa sociedade profana e superficial que tem sido um espelho da relação de nossa geração (na igreja) com Deus. Temor? Senso de santidade divina? Percepção da presença de Deus? Não! Ali está apenas um homem cansado e focado na vida a sua frente. Mas então ele tem um sonho – um sonho que nossa geração não tem sonhado – e por isso age e vive (mesmo os cristãos) sem a percepção de Jacó naquele instante.

Então Jacó acordou do sonho – Acordamos nós também? “E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela; E eis que o SENHOR estava em cima dela, e disse: Eu sou o SENHOR Deus de Abraão...” - Gênesis 28:12-13. Quem dera estivéssemos acordados! Jacó disse: “Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus.” - Gênesis 28:16-17. Era terrível, não era mais comum. Ele se encheu de temor.

Que percepção, senão esta, devia ser o sentimento constante no coração regenerado? “Quem é como tu, glorificado em santidade? -  Êxodo 15:11. Que denúncia mais terrível poderia ser feita aos “adoradores” de nossos dias do que sua superficialidade que faz comum e não terrível a presença de um Deus santo?

Como pecadores que viram a realidade do pecado podem chegar diante de Deus a não ser com a percepção que Jacó teve? Eu sei, falaremos da Graça, mas a graça não diminui o espanto, o senso da perfeição da santidade de Deus e de nossa indignidade, pelo contrário. Mesmo a alegria dos santos é cheia de tremor: “Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor.” Salmos 2:11. Na graça a nossa salvação é operada nestes termos: “...assim também operai a vossa salvação com temor e tremor” - Filipenses 2:12

Isto deve ser assim, pois Deus é infinitamente santo, transcendentalmente santo, superlativamente santo, imutavelmente santo, gloriosamente santo. Em Cristo somos totalmente santos – como imputação – mas olhamos para as nossas vidas – Ah! O que vemos? Orgulho misturado em nossa humildade, incredulidade misturada em nossa fé, impertinência misturada na doçura, carnalidade misturada a espiritualidade, dureza misturada com ternura.

Se os querubins, serafins, em sua santidade se tapam e clamam: “Santo, santo, santo...” – de onde tiramos “intimidade afetada?”. A santidade de Deus é pura e sem qualquer mistura – “Só Ele é santo!” – Toda santidade, mesmo do céu, é derivada. “Deus é luz e nele não há treva alguma” – 1 João 1.5. Nele está toda luz sem nenhuma escuridão, toda santidade sem qualquer vestígio de mal, toda sabedoria sem nenhuma loucura. Ele é santo em todos os seus caminhos, em todas as suas obras, em todos os seus preceitos e leis, em todas as suas promessas... santo em todas as suas ameaças, santo em toda a sua ira, todo o seu ódio contra o pecado expressam a perfeita santidade. Sua natureza é santa, seus atributos são santos, suas ações são todas santas.

Ele é santo ao exercer misericórdia (não faz isso sem propiciação) – portanto, Ele é santo ao poupar e também santo ao punir eternamente. Ele é santo ao justificar alguns e santo na condenação dos outros, pois “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus!” – Ele é santo ao levar um povo ao céu e santo ao atirar multidões no inferno.

Jacó, ao perceber a verdade sobre o ser de Deus, disse: “Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar!”. Não percebemos mais isso? Deus já estava lá, Jacó é que não tinha a percepção disso – será essa a história de nossa “geração de adoradores?”

Deus é santo em todas as suas palavras, em todos os seus atos, em tudo que Ele põe a mão, em tudo que Ele decide em seu coração. Sua face de desaprovação e ira é santa, seu sorriso é santo.

Quando Ele dá, suas dádivas são santas. Quando Ele tira é sua santidade que está operando. “Eu não sabia!” – disse Jacó. Podemos dizer o mesmo depois da perfeita revelação de Deus em Cristo? Depois da clareza dessa revelação no Novo Testamento? Depois da cruz mostrando que mesmo ao ver o pecado colocado sobre Seu Filho amado e santo, ele teve que derramar sua ira sobre Ele?

Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso! – Isaías 6:3. Sua santidade está além de toda possibilidade de ser sondada por homens como nós, não há medição possível, não há compreensão exaustiva, pois infinito é o mar da santidade que Deus é e que está em Deus. Não podemos concebê-la em sua totalidade. Seria mais fácil apagar o sol, ressuscitar os mortos, fazer um mundo, contar as galáxias, esvaziar o mar com um balde, do que expressar a santidade perfeita e transcendente de Deus.

Sua santidade é simplesmente infinita – sendo assim não pode ser limitada, nem diminuída ou aumentada. Só Ele é fonte de toda santidade e pureza. Toda santidade do céu, dos anjos, dos redimidos é apenas reflexo da Sua santidade infinita. Podemos orar por uma igreja santa, por filhos santos, mas não podemos comunicar santidade. Só Deus é o doador de santidade. Só Ele pode causá-la e só d'Ele ela pode fluir. Só Ele pode infundir santidade no homem.

Não devíamos nós, que somos descritos por Isaías assim: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam”  Isaías 64:6. Falar como Jacó? “Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar!”

Deus é santo! E apenas um Deus totalmente e perfeitamente santo pode iluminar nossa mente, mudar nossa vontade, derreter e quebrantar nossos corações, criar novas afeições, purificar nossas consciências e reformar completamente nossas vidas.

Como eu disse no início, oramos contra o ruído de fundo da televisão, meditamos na Palavra enquanto conversamos no Facebook, nosso senso de santidade divina é tão fraco que estamos num lugar de culto enquanto nos alongamos e mascamos nosso chiclete. Toda essa verdade sobre a santidade de Deus não é a ênfase do que chamamos culto, ela foi esquecida ou não tem qualquer peso sobre nós. Temos sido um espelho de nossa cultura que esqueceu Deus e não um espelho da glória da santidade de Deus.

Está na hora de acordarmos e, como Jacó, dizer: “Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar!

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Autor: Josemar Bessa

http://bereianos.blogspot.com.br/2016/09/a-biblia-ou-nossa-geracao-goma-de-mascar.html

quinta-feira, 30 de março de 2017

É proibido sofrer!


"É proibido sofrer!" Esta é a mensagem que vemos sendo anunciada em quase todos os lugares. Talvez nem sempre dita assim tão explícita, mas percebemos suas variações quando também se diz: "pare de sofrer!", "tenha uma vida vitoriosa!", "Você nasceu para ser cabeça e não cauda!", "decrete e profetize sua vitória!", "tome posse pela fé!" e tantas outras ordens e palavras que, na cabeça de muita gente, vira uma espécie de anestésico contra as dores que os problemas da vida provocam na gente.

A sociedade atual se esconde do sofrimento e o nega porque ele desmascara nossas fragilidades. A questão é que a ferida continua aberta, a infecção vai se alastrando cada vez mais, a doença emocional vai se enraizando, vai matando lentamente, mas seus efeitos são maquiados pela não sensação de dor. Se esquecem que o próprio sofrimento pode ser uma bênção, pois ele nos avisa sobre a necessidade de que algo deve ser feito.

Embora haja fundamento bíblico para nos dizermos mais do que vencedores por meio de Jesus, esta palavra "vencedores" não segue o modelo e o padrão moderno de entendimento do que seja vencedor segundo a ganância dos homens. O perfil do vencedor moderno é aquele que até pode passar por alguma dificuldade, mas consegue tudo o que quer. Sempre vence as dificuldades virando o jogo com palavras mágicas. Nunca demonstra em público suas fraquezas. Este é o vencedor das externalidades, da futileza, do terno Armani, da bolsa Louis Vuitton, do carro de luxo, de ter dinheiro, poder e influência sobre a vida das pessoas. É o que se faz vencedor pela força bruta, é o indestrutível. Infelizmente, este tipo de vencedor é anunciado adoecida e insistentemente em muitos púlpitos. Quem não se enquadra nesse padrão é rapidamente chamado de "sem fé", amaldiçoado, fraco ou derrotado.

Já, o Vencedor, segundo o Evangelho, é aquele que também sofre, também passa por algum tipo de privação, pode até vencer de alguma forma material, mas sabe discernir entre o momento de rir e o de chorar. Aprende a viver cada um destes momentos reconhecendo que há um Deus que não somente assiste, mas participa com a gente, ao nosso lado, de cada riso ou lágrima e usa essas coisas também como ensino e crescimento para cada um de nós.

Perder ou ganhar, ser fraco ou forte, no entendimento bíblico, não depende do troféu humano, das honrarias, homenagens, recompensas e reconhecimentos que se recebe em vida.

Vencer não tem a ver necessariamente com possuir bens ou ser curado de uma doença terminal. Estas coisas também, mas elas não tratam da essência. Estão na superfície de uma vida muito mais profunda, muito além de ter ou não os seus sonhos e pedidos realizados.

Aqueles que vencem ou venceram, nas Escrituras, perderam o mundo para ganhar a Vida. Alguns foram perseguidos, torturados, mortos, tiveram seus bens espoliados, famílias separadas. A maioria não foi nenhum exemplo de sucesso de empreendedorismo, de força de vontade ou estabilidade emocional. Passaram fome, fugiram, tiveram medo, alguns desistiram ou abandonaram seus projetos e chamados missionários, antes do tempo. Tiveram crises existenciais, ficaram deprimidos, se sentiram enfraquecidos, desejaram morrer mas foram salvos e reencaminhados não por suas próprias forças, mas pela Graça infinita, teimosa e amorosa de Deus. O verdadeiro vencedor é aquele que vence não por ele mesmo, mas vencido, vence em Deus.

O vencedor, segundo as Escrituras, sabe que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, mas nem por isso deixa de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Vive cada sentimento de forma verdadeira, sem máscaras e consciente.

Nesta vida ainda vamos perder e achar muitas coisas, muitas vezes. Alguns sonhos pessoais jamais serão alcançados, outros virão como que presentes de Deus para nossas mãos. Não se permita ser julgado pelos outros ou pela própria consciência por causa do que você ganha ou deixa de ganhar. O importante é, como diria nosso irmão Paulo, o apóstolo: "quer vivamos ou morramos, somos do Senhor." (Romanos 14.8). Em outras palavras, desta vez, ditas por Jó "o Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o seu nome." (Jó 1.21).

O sofrimento em si não nos torna derrotados. Podemos, sim, aprender e sermos aperfeiçoados por causa dele. O rótulo é sempre algo imposto de fora pra dentro. Nem sempre expressa uma realidade. Não se auto impute um desmerecimento ou supervalorização falsos. O verdadeiro vencedor aprende a dar nomes às suas responsabilidades, projeta sua esperança não nas coisas que se veem, mas naquelas que são eternas. Assume seus erros, mas também consegue se alegrar com cada pequenino passo em direção à Vida. Sabe perdoar e também pedir perdão. O sofrimento dói, mas nos amadurece, nos ensina a reconhecer o que de fato podemos chamar de vitória.

O Deus que venceu por todos te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente! 

Ave Crux, Unica Spes!

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Autor: Pablo Massolar

http://bereianos.blogspot.com.br/2016/09/e-proibido-sofrer.html

QUEM SE SUICIDA VAI PARA O CÉU? - AUGUSTUS NICODEMUS


quarta-feira, 29 de março de 2017

Mais que um espectador


Eu amo ver futebol. Acredite ou não, isso é algo que me dá prazer. E antes que você goze de mim, lembre que bilhões de pessoas no mundo gostam também. Eu amo dizer ao técnico do meu time sobre as decisões erradas que ele está tomando. Eu amo compartilhar minha opinião com o juiz sobre suas habilidades de tomar decisões ou sua necessidade de ir ao oftalmologista o mais rápido possível. É muito difícil para mim ficar calado quando estou vendo meu time jogar. O único problema com isso tudo é que ninguém pode me ouvir. Bem, talvez meus vizinhos possam. Mas aqueles realmente envolvidos no jogo não conseguem. O técnico, os jogadores e o juiz não têm a menor ideia que existe um cara, a milhares de quilômetros de distância, gritando com eles por meio da tela da televisão.

Essa mentalidade de espectador é o que vemos muitas igrejas. Muitas pessoas aparecem pensando que a Igreja está lá para servi-las. Na verdade, se formos honestos, admitiremos que  todos nós pensamos assim naturalmente. Todos nós nascemos achando que o mundo existe por nossa causa. Muitos jovens pastores, como eu, realmente encorajam isso. Eles organizam a igreja para que ela pareça um show de rock, com um mini sermão ali no meio, que dificilmente durará mais que 20 minutos. A Bíblia é deixada de lado e o culto parece ter sido feito para que os não crentes se sentissem bem-vindos e confortáveis.

O autor de Hebreus pensava diferente. Ele estava convencido que ser parte da Igreja significa ser mais que um espectador. Na verdade, ele incentiva que todos os crentes sejam participantes ativos. Em Hebreus 10.24-25, nós achamos uma famosa passagem, a qual nós, usualmente, corremos para ela quando achamos alguém que se diz cristão, porém não frequenta a igreja. Apesar de ela ser, certamente, uma passagem que diz “não falte a igreja”, ela é muito mais. Em apenas dois versos curtos, nós temos cinco mandamentos, os quais podem mudar radicalmente o nosso domingo.

A primeira coisa que devemos fazer é nos PREPARAMOS para o domingo

Consideremos-nos…”

A palavra “considerar”, no verso 24, implica que nossa mente precisa estar engajada no domingo. Isso significa que nossas mentes precisam estar alertas. Isso significa que devemos estar em forma. Não acho que seja exagero dizer que nós não estaremos totalmente alertas no domingo de manhã, se não tivermos uma boa noite de sono. É por isso que dizem que o domingo de manhã começa no sábado à noite. Nós precisamos estar descansados. Não só para sermos bons ouvintes do sermão, mas porque estaremos mais alertas e dispostos a servir e a encorajar os outros. Isso implica que devemos estar preparados para a Igreja. Significa que nós não estamos lutando para que tudo esteja pronto na porta no domingo de manhã. Talvez deixar o almoço pronto, as roupas já escolhidas, as bíblias e computadores já no carro, no sábado à noite podem prevenir o drama de manhã. Outro aspecto chave é manter nossa mente pensando no Senhor e nos outros, em vez de pensar nas coisas mundanas. Fazer uma maratona na Netflix antes de ir para a igreja provavelmente não é uma boa escolha. Nós, provavelmente, iremos ficar pensando no que acontecerá com nossos personagens favoritos, em vez de pensarmos em como podemos servir nossos irmãos e irmãs.

Na palavra “considerar”, também está implicado o fato que não pensaremos no próximo naturalmente. Para isso, é preciso preparação. Precisamos nos lembrar de fazer isso. Devemos treinar nossas mentes a pensar sobre o próximo quando vamos à igreja. Isso significa em sobre como Deus pode nos usar. Enquanto estamos dirigindo para o culto, nós devemos pensar e nos relembrarmos de que estamos prestes a fazer algo muito importante. Talvez a coisa mais importante que devemos fazer. Devemos celebrar a ressurreição de Cristo, nos submeter à pregação da Palavra de Deus e participar do crescimento da igreja local. Você pensa em como você pode abençoar seus irmãos e irmãs, enquanto você se dirige à igreja?

Somos instruídos a constantemente PRATICAR o pensar sobre o próximo

consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras…”

O autor de Hebreus diz que devemos considerar como devemos estimular uns aos outros. A palavra “como” está carregada. Isso não é simplesmente aparecer na igreja e despejar o que aprendemos durante a semana em nosso tempo com o Senhor. É exatamente essa a consideração que nossos amigos precisam. Isso varia de pessoa para pessoa. Nós realmente devemos conhecer as pessoas ao nosso redor e saber como podemos encorajá-los. Quando o meu time de basquete no ensino médio se preparava para um jogo, nós assistíamos a um jogo gravado e tentávamos encontrar o ponto fraco dos outros times. Se eles eram muito rápidos, nós iríamos passar a bola para nossos jogadores altos. Se eles fossem altos, porém devagar, nós iríamos nos por em guarda e ditar o ritmo do jogo. Se eles fossem altos e rápidos, bem, aí seríamos esmagados. Mas você entendeu o ponto. Nós não tratávamos nossos oponentes da mesma forma. Muitas vezes, como cristãos, nós estamos tão focados em nós mesmos que não temos a menor ideia de como incentivar as pessoas em nossa volta à piedade. Tessalonicenses 5.14 capta essa ideia perfeitamente. Além de nos dizer que devemos ser pacientes sempre, ele também nos ensina a tratarmos as pessoas de maneira diferente, baseados em suas necessidades. Nós devemos estar ativamente estudando e cuidado das pessoas ao nosso redor, para que possamos cuidar apropriadamente de suas almas.

Devemos buscar uns aos outros

consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras…”

A palavra “estimular” é normalmente usada no negativo. É algo provocativo. É desafiar alguém a ir a algum lugar onde ele, naturalmente, não quer ir. Na carne, naturalmente nós não fazemos boas obras. Somos todos propensos a vaguear. Nós precisamos procurar uns aos outros e nos incentivarmos a sermos piedosos. Por conta própria, você pode aprender mais sobre Deus, você pode crescer em seu amor por Deus, mas, ao mesmo tempo, você precisa perceber que você não consegue ver tudo sozinho. Todos nós tempos pontos cego. É por isso que ser monge não funciona. Para crescermos na vida cristã, você não deve só gastar tempo com o Senhor, mas, também, estar envolto por crentes. Você precisa deles. E adivinha? Eles precisam de você! Eles precisam que você esteja em forma. Se estamos abrigando pecados em nossas vidas, mesmo em nossas vidas privadas, então, definitivamente, não estamos crescendo em nossa caminhada. E se não estamos crescendo em nossa caminhada, nós não seremos capazes de estimular  o nosso próximo a terem boas obras. Além disso, abrigar pecados faz com que sejamos egoístas e diminuamos as chances de nos apresentarmos prontos para nos reunirmos e servimos uns aos outros.

Somos ordenados a priorizar o encontro

Não deixemos de congregar-nos, como é de costume de alguns…”

Claro, nada disso importa, a não ser que saiamos de nossas camas para irmos à igreja. E parece que a igreja primitiva também lutava com isso. Mas, diferentemente de nós, o impedimento deles não era por besteira, mas por perseguição. Hebreus 10.33-34 nos diz que as pessoas a quem o autor estava escrevendo estavam sofrendo sérias perseguições. Alguns perderam suas casas, outros, a vida. Então a tentação de ficar em casa era algo muito forte. Ainda assim, com esse cenário, o autor de Hebreus os alerta para que não deixem de se congregar. A despeito do fato de estarem sofrendo sérias perseguições, eles eram menos propensos a faltarem a igreja do que a maioria dos americanos! Isso é incompreensível. Devemos lutar por nosso tempo com nossos irmãos e irmãs. É uma loucura faltar a igreja. Você tem um pastor que passou várias horas estudando a passagem da Escritura com o propósito de fazer você mais piedoso! E, espero, você possui vários irmãos indo à igreja considerando as formas pelas quais eles podem estimulá-lo e encorajá-lo a amar e obedecer mais a Cristo! Onde você prefere estar?

Somos chamados a ajudarmos uns aos outros

antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima

É muito interessante como o autor conclui com um chamado a encorajarmos uns aos outros. A palavra “incentivar” não deixa de lado a verdade. Mas ao falar a verdade, faça com mansidão, lembrando-vos uns aos outros sobre as promessas de Deus. É fascinante notar que isso deve crescer com o passar dos dias. É interessante que em Hebreus 10.25 ele conecta isso com a segunda vida. A cada dia que estamos mais perto do dia do retorno do Senhor, devemos crescer no nosso encorajamento mútuo.  O mundo está ficando cada vez mais hostil ao evangelho. A igreja deve ser um oásis para o crente. E nós devemos passar nosso tempo estimulando e exortando uns aos outros a buscarmos Cristo. É interessante como, além de sermos menos propensos a irmos à igreja que os cristãos primitivos, apesar de sofremos menos perseguições, somos menos propensos a pensarmos na volta do Senhor, apesar de estarmos 2 mil anos mais perto disso acontecer. Toda manhã que acordamos, não estamos apenas mais um dia perto de nossa morte, mas, também, estamos um dia mais perto da volta de Cristo.

O autor de Hebreus acredita que pensamos mais no próximo quando vamos à igreja. Ele acredita que se formos fiéis em nossa preparação, prática, busca, priorização e ajuda mútua, seremos fiéis a Cristo e participantes ativos no que Cristo tem feito por meio das igrejas locais de todos os lugares.

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Autor: Jordan Standridge

http://bereianos.blogspot.com.br/2016/09/mais-que-um-espectador.html

COMO IDENTIFICAR A VONTADE DE DEUS? - AUGUSTUS NICODEMUS


terça-feira, 28 de março de 2017

Todos os cristãos precisam de teologia


É incrível, como existe no meio evangélico dos nossos dias, cristãos avessos ao labor teológico. Eis uma realidade que nem os reformadores gostariam de presenciar no nosso tempo. Nos últimos dias, percebi isso de forma mais aguda e acentuada. Há nos arraiais evangélicos pessoas que de tal forma rejeitam a teologia, não seria isso um grande contrassenso? Me parece que o discurso do amor é uma antítese ao labor teológico. 

Dificilmente um texto como esse resolveria a questão, dificilmente um sermão pregado no púlpito dia de domingo conseguiria destruir essa fortaleza que existe no coração de muitos. Acredito que, uma clareza de conceitos, processo de ensino e advertência sobre a importância da teologia, provocariam um passo no longo percurso da quebra de paradigmas. 

Não se deve negar que, durante muito tempo, a teologia esteve confinada num mundo acadêmico, toda a questão que envolve a teologia sempre distanciou o público leigo desse privilégio bíblico. Talvez sua linguagem técnica, sua rigorosidade científica, seu aspecto erudito, construíram muros ao invés de pontes para com o público cristão leigo. É possível que, certa "distinção clerical", tenha gerado ao longo do tempo um abismo entre a teologia e os iniciantes no caminho do saber bíblico. 

No entanto, a Escritura afirma e direciona o caminho do sacerdócio universal, não apenas a liderança eclesiástica deve vivenciar o labor teológico, mas, todo aquele que professa ser cristão (1Pe 2.9). Todos os cristãos, a Escritura afirma, devem crescer não apenas na graça, mas também no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pe 3.18). Retomemos o ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes! É verdade que entre abismos e muros, o trabalho de criar pontes será bem maior. Lembro-me, várias vezes, em aulas do seminário, professores repetirem: "somos chamados como construtores de pontes e não de muros". 

A ideia que Deus capacita apenas alguns e outros ficam somente como expectadores existe, e tem causado o desperdício e desconforto na causa do Reino. Infelizmente o que se dedica ao labor teológico é visto como orgulhoso, prepotente, sabedor da verdade e que de forma arrogante só sabe criticar ao invés daquele que mesmo sem saber muita coisa, consegue amar sem fazer acepções. Nunca deveria existir essa oposição da teologia e o amor, da teologia e a humildade, da teologia e a piedade. Na verdade, o verdadeiro propósito do conhecimento redundará em adoração através de uma vida piedosa, como testemunho. Esse é o fundamento da teologia, a glória de Deus e uma vida piedosa. 

Como um cristão pensa que se opor a teologia o faz mestre na piedade? A definição da teologia não deveria ser aquilo, que o cristão leigo ou não, deveria admitir buscar todos os dias? Conhecimento de Deus não deveria ser desejado? É importante perceber o fato de que hoje muitos dos que rejeitam essa vida acadêmica, são os mesmo que criticam quem assim o faz, negando por sua própria conduta seu discurso repetitivo e obsessivo por mais amor e menos intelecto. Devemos considerar do mesmo modo quem usa o academicismo como chicote e Bíblia como pedrada. De fato, muitos usam do "tulipar" ou"teologizar" para bater e pisar no corpo no qual Cristo é o cabeça, não sabendo realmente como usar esse labor para a glória de Deus. 

Há passagens bíblicas que mostram claramente a importância da teologia para todo o cristão e o quanto ela está a serviço do povo de Deus. Mais ainda: que existe benefício para todo o povo de Deus em todos os campos do labor teológico. 

• Conforme a ordem dada ao sacerdócio real e a nação santa sobre o anúncio das grandezas de Deus (1Pe 2.9), esse é um ponto que se requer preparo no falar. Não deve ser negligenciado, pois as grandezas de Deus não podem ser anunciadas de qualquer forma. E, a parte da teologia que esmera-se nesse assunto, é a homilética, visto que, não somente prepara bem o pregador para o púlpito, mas, todo cristão para uma boa transmissão dessa verdade bíblica. 

 A grande comissão nos ordena a fazer discípulos e a forma como devemos fazer é ensinando (Mt 28.19-20), a ordem deve ser obedecida. Devemos ensinar tudo aquilo que Cristo ordenou e isso requer conhecimento sobre Deus, seus mandamentos, sua lei. Como podemos fazer discípulos sem teologia? A teologia nos ajuda a romper com os métodos modernos, para crescer no conhecimento da teologia bíblica e exegética. 

 Pedro, no capítulo 3, verso 15, da sua primeira carta, nos diz que devemos estar preparados para responder à todo aquele que nos inquirir a respeito da esperança que há em nós, a razão da nossa fé. Ou seja, é necessário que tenhamos conhecimento bíblico. Chamamos isso na teologia de apologética, isto é, um discurso de defesa da fé cristã bem embasado nas Escrituras. 

 Há passagens na Bíblia de difícil interpretação, até o apóstolo Pedro concordou com isso (2Pe 3.16), inclusive, nesse mesmo verso, ele fala de homens que distorcem a Escritura para a sua própria destruição. Pedro traz-nos um alerta para que não sejamos enganados, de forma que não suceda perdermos nossa firmeza. A hermenêutica é o campo da teologia que se encarrega de examinar o sentido preciso de uma passagem bíblica. Como disse Pedro, todo cristão deve crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. 

Poderia continuar propondo pontos que, de forma clara, são necessários a todo cristão, de fato, todos nós precisamos da teologia. Aprimorar nosso conhecimento a respeito de Deus através da Sua Palavra. Devemos ser inclinados ao labor teológico, ortodoxia e ortopraxia não são opostas, na verdade, são inseparáveis. Sejamos construtores de uma teologia saudável, que seja uma ponte para nossos irmãos da igreja local. Todo cristão deve desejar conhecer a respeito da revelação especial, eis um exemplo claro do conselho de Paulo a Tito:
"Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina. Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade; use linguagem sadia, contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se opõem a você fiquem envergonhados por não poderem falar mal de nós." (Tito 2.1, 7-8.)

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Autora: Morgana Mendonça

http://bereianos.blogspot.com.br/2016/09/todos-os-cristaos-precisam-de-teologia.html

É PECADO JOGAR NA LOTERIA? - AUGUSTUS NICODEMUS


segunda-feira, 27 de março de 2017

Comentário de João Capítulo 6


Nota do tradutor:

Provavelmente você já ouviu alguém dizer que Romanos 9 é a kryptonita do Arminianismo. Se esse é o caso, então João 6 é certamente o golpe de misericórdia. Neste fascinante comentário elaborado pelo Dr. James White, temos a refutação de duas ideias errôneas — porém bastante distintas — que se propagaram no Cristianismo: a transubstanciação e a depravação parcial do homem. Assim como o autor, eu espero que este comentário seja útil para os crentes do Brasil e que ele ajude a Igreja brasileira a buscar um material teológico são. 

Erving Ximendes, agosto de 2016.



Introdução

Em nossa constante tentativa de satisfazer a necessidade de um material teológico saudável para a comunidade cristã, estamos disponibilizando esta tradução e comentário sobre o sexto capítulo de João. Nossa razão para isso é que queremos deixar a poderosa luz das Escrituras incidir sobre duas questões bastante distintas. Em primeiro lugar, as palavras de Jesus em João 6 são vitais para a nossa compreensão da doutrina da eleição dos santos de Deus. João 6: 38 é uma das mais claras exposições que temos da doutrina da salvação do Senhor. Por isso, a proclamação da verdade chegará ao ponto de corrigir os muitos erros — tanto dentro quanto fora — da comunidade cristã. Em segundo lugar, João 6:48 é uma passagem importante para lidar com a teologia sacramental e especificamente com os ensinamentos da Igreja Católica Romana no que diz respeito à transubstanciação e toda a sua doutrina da salvação. Esperamos que este comentário e tradução literal elaborada por James White, diretor do Ministério Alpha & Omega, sejam úteis para o ministério dos santos.

O sexto capítulo do Evangelho de João é um trecho fascinante de literatura — aparentemente narrado com grandes propósitos. Ele tem o dobro do tamanho médio dos capítulos de (registrados por) João. O capítulo narra dois grandes milagres — a alimentação dos 5.000 e Jesus andando sobre as águas — e os conecta para formar a introdução a um diálogo cristológico muito importante. Este diálogo, em seguida, termina na confissão de fé dos verdadeiros discípulos de Jesus.

COMENTÁRIO

1 - Algum tempo depois Jesus partiu para a outra margem do mar da Galiléia (ou seja, do mar de Tiberíades). 2 - E grande multidão continuava a segui-lo, porque vira os sinais miraculosos que ele tinha realizado nos doentes.

Comentário: Boa parte do ministério de Jesus está intimamente ligado ao Mar da Galiléia. João dá o que provavelmente seria o nome "romano" oficial para uma grande quantidade de água, embora este nome apareça com pouca frequência. A cidade de Tiberíades — nomeada conforme o imperador — tinha obtido esse nome apenas alguns anos antes da época do ministério de Jesus, daí a menção secundária feita por João. João fala de uma grande multidão que segue a Jesus, presumivelmente por terra e não pelo mar, por causa dos poderes de cura que Jesus possuía. Nenhuma menção é feita a uma suposta presença de enfermidade no meio desta multidão; as pessoas parecem muito mais atraídas à possibilidade de um milagre do que a qualquer outra coisa.

3 Então Jesus subiu ao monte e sentou-se com os seus discípulos. 4 - Estava próxima a festa judaica da Páscoa.

Comentário: Há possivelmente uma figura de retórica no verso 3, reminiscente do Sermão da Montanha, em Mateus 5: 1. Aparentemente, o Senhor e Seus discípulos chegaram à parte e subiram a montanha sozinhos. Se Jesus queria ter uma conversa particular com os discípulos, João não menciona isso. O que ele menciona, no entanto, é o fato de que a Páscoa estava próxima. Levando em conta o caráter não judaico de sua audiência, João menciona que a Páscoa é a festa dos judeus — um item que seria certamente desnecessário se o seu público fosse, em sua maioria, judaico. João pode apenas estar colocando os eventos em seus contextos históricos. Ou, ele pode estar atribuindo importância às ações de Jesus naquilo que vai acontecer mais adiante. Será que Jesus está colocando a si mesmo como o portador da verdadeira Páscoa? Se a Páscoa estava se aproximando, por que essas pessoas não estavam subindo a Jerusalém? Será que Jesus estava apontando para si mesmo como o cumprimento da Páscoa? O próximo capítulo começa com a Festa dos Tabernáculos — quase seis meses depois. Assim, parece haver um intervalo de tempo entre os dois capítulos, e, portanto, um propósito real por trás da menção da festa da Páscoa.

5 - Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que se aproximava, Jesus disse a Filipe: "Onde compraremos pão para esse povo comer?" 6 - Fez essa pergunta apenas para pô-lo à prova, pois já tinha em mente o que ia fazer.


Comentário: João retrata Jesus vendo a multidão que vinha ter com Ele de longe. A princípio parece que Ele percebe que essa multidão estará com fome, pois teria viajado uma longa distância. Os evangelhos sinópticos, no entanto, indicam que um período de ensino interveio e até que esse ensinamento acabasse já seria tarde demais para que as pessoas voltassem as suas casas — daí a necessidade de comida.

Filipe parece ter sido a melhor escolha para o questionamento feito pelo Senhor, uma vez que ele era de Betsaida e, se isso aconteceu "na outra margem do mar", oposta a Cafarnaum, sua cidade natal estaria bem perto. Assim, voltando-se para o menino local, Jesus pergunta sobre as fontes de alimentação na vizinhança. Mas João é rápido em apontar que Jesus sabia o tempo todo o que iria fazer, a questão estava em testar a compreensão de Filipe sobre Sua própria pessoa e sobre Seu poder.

7 - Filipe lhe respondeu: "Duzentos denários não comprariam pão suficiente para que cada um recebesse um pedaço!" 8 - Outro discípulo, André, irmão de Simão Pedro, tomou a palavra: 9 - "Aqui está um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas o que é isto para tanta gente?”.

Comentário: A resposta de Filipe é de surpresa: todo o tesouro dos apóstolos provavelmente não continha dinheiro suficiente para comprar uma quantidade tão grande de alimentos, ainda que estivessem disponíveis. Ainda sem perceber o propósito do Senhor, André — que parece ter sido uma pessoa observadora, sempre levando as pessoas a Jesus — traz à atenção do Senhor a única fonte aparente de sustento: um menino que tinha cinco pães de cevada — o alimento do homem pobre — e dois peixinhos. Mas até mesmo André tem que acrescentar: "Mas o que é isso para tanta gente?". Ele ainda não conhece a suficiência daquilo que é pequeno nas mãos de Jesus.

10 - Disse Jesus: "Mandem o povo assentar-se". Havia muita grama naquele lugar, e todos se assentaram. Eram cerca de cinco mil homens. 11 - Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto queriam; e fez o mesmo com os peixes.

Comentário: João enraíza firmemente na história o mais popular dos milagres de Jesus — a julgar pela inclusão deste relato em cada um dos evangelhos. Jesus dá ordens — Lucas, o historiador, observa que eles deveriam ser separados em grupos de 50 — e João se lembra de detalhes visuais, i. e., havia muita grama naquele lugar. A imagem é impressionante: um dia frio de primavera com um grande grupo de homens e mulheres — em um número maior que 5.000 — reclinando sobre a relva verde. Enquanto isso, os discípulos se perguntam o que o Senhor iria fazer nesse momento. Pode-se até imaginar o sorriso de João à medida que ele escreve — ou dita — esta parte do seu livro. Quão grande anseio ele deve ter tido de estar ali novamente!

Jesus tomou o pão e, como era seu costume, deu graças por isso. Infelizmente, a formulação exata desta oração não nos é fornecida — o máximo que podemos fazer é nos perguntar como foi que Jesus agradeceu por aqueles pequenos pães e peixes secos. João atribui importância a este ato, uma vez que ele o menciona novamente no verso 23.

No estilo típico, o milagre é narrado sem enfeites ou fantasias. É simplesmente afirmado que a comida foi distribuída aos que se reclinavam sobre a grama — com cada um tendo sua porção. O milagre está mais implícito do que diretamente declarado, embora não haja dúvidas de que ele realmente tenha acontecido.

2 - Depois que todos receberam o suficiente para comer, disse aos seus discípulos: "Ajuntem os pedaços que sobraram. Que nada seja desperdiçado". 13 - Então eles os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados por aqueles que tinham comido.

Comentário: João continua a projetar outro ponto: que não só a comida havia sido suficiente para todos, mas, na verdade, havia sido mais do que o necessário. A graça de Deus era maior do que a própria necessidade. Em seguida, os discípulos ajuntam doze cestos cheios. Curiosamente, na narrativa dos evangelhos sinóticos, quando Jesus alimenta os 4.000, sete cestas maiores são retomadas, aparentemente indicando um excesso ainda maior do que a que aconteceu com os 5000.

14 - Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: "Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo".

Comentário: Como resultado do sinal — não do ensino —, os homens estão convencidos de que Jesus é "o Profeta". Muitos veem isso como uma referência a uma crença do primeiro século no "Profeta" — como Moisés era em Deuteronômio 18: 18 — e que ela deve ser distinguida da crença de que Jesus era o próprio Messias. Outros veem uma relação similar entre Messias e Profeta. Eu prefiro a primeira opção.

15 - Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte.

Comentário: Jesus sempre é retratado por João como tendo a capacidade de conhecer os pensamentos dos homens. Parece, sem sombra de dúvidas, que essa capacidade é apresentada como um poder sobrenatural. Ainda assim, João não é o único a fazer isso. Marcos (2: 4-8) dá a mesma informação, embora não da maneira tão forte que João a fornece.

Os homens estavam prestes a vir e fazer de Jesus "rei". As multidões, como sempre, estavam procurando o conquistador político/militar que poderia livrá-los da tirania romana. No entanto, se estes homens estavam procurando o "Profeta", ao invés do Messias, existe a possibilidade de termos aqui a conexão feita posteriormente pelo próprio Jesus: o "Profeta" será semelhante a Moisés, e Moisés deu ao povo o maná no deserto. Assim, se Jesus é capaz de dar o "maná" no deserto moderno, Ele não deveria ser "profeta" assim como Moisés? A maneira que as expressões "o Profeta" e "fazê-lo rei" se encaixam é difícil de determinar, e depende da teoria que você adere quanto às crenças messiânicas do primeiro século. Embora o aspecto militar seja forte nos evangelhos sinóticos, ela não parece ser tão prevalente aqui.

Jesus se desvia dos planos precipitados dos homens e vai sozinho para a montanha. Possivelmente os próprios discípulos corriam o perigo de serem levados pelo frenesi da multidão. Nos relatos dos evangelhos sinópticos, eles nunca desistem da ideia de um herói/messias militar, e isso pode estar presente aqui também.

16 - Ao anoitecer seus discípulos desceram para o mar, 17 - entraram num barco e começaram a travessia para Cafarnaum. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha ido até onde eles estavam. 18 - Soprava um vento forte, e as águas estavam agitadas. 19 - Depois de terem remado cerca de cinco ou seis quilômetros, viram Jesus aproximando-se do barco, andando sobre o mar, e ficaram aterrorizados.

Comentário: João faz uma transição muito natural até a próxima parte deste dia agitado — e ao próximo milagre também. Os discípulos decidiram ir a Cafarnaum. A repentina isolação de Jesus bem no momento em que eles esperavam que Ele fosse aceitar os elogios da multidão deve ter-lhes causado consternação. Será que Jesus tinha dado instruções de atravessar a Cafarnaum? Será que eles descobriram que Jesus queria que eles fossem para lá? Será que eles estavam abandonando a Jesus? João não diz nada a respeito e somos deixados apenas com perguntas. João observa que já estava escuro quando eles entraram no barco — uma coisa perigosa a se fazer sobre as águas traiçoeiras do mar da Galiléia. Talvez eles tivessem esperado o máximo que puderam, e só agora haviam cedido e começado a atravessar o mar.

Enquanto estavam no mar, um "grande vento" surgiu — uma ocorrência comum em climas desérticos. João nos diz que os homens estavam quase na metade do caminho quando Jesus veio a eles — não muito longe dado o fato de que muitos deles eram pescadores e seriam habilidosos em viagens aquáticas. O vento estava, obviamente, contrário a eles. Os evangelhos sinópticos nos dizem que a essa hora já era muito tarde da noite. Marcos nos diz que estavam na quarta vigília (Marcos 6:48).

Não sabemos quem foi o primeiro a ver Jesus andando sobre as águas, mas o choque certamente deve ter sido grande. Todo tipo de possível explicação naturalista tem sido oferecida para este milagre, mas o texto simplesmente não as permite. Jesus vem em direção ao barco, andando sobre as águas, e os homens ficam com medo — o que é bastante compreensível, dada a situação.

20 - Mas ele lhes disse: "Sou eu! Não tenham medo!" 21 - Por isso eles quiseram recebê-lo no barco e logo após Ele entrar, se encontraram na costa para a qual estavam indo.

Comentário: Jesus rapidamente se identifica ao perceber o medo de Seus discípulos. João não fornece tantos detalhes quanto Mateus (14: 22-27). Sua narrativa é bastante autodisciplinada. A identificação de Jesus acalma os medos dos discípulos e Ele então entra no barco.

A próxima cláusula parece indicar mais um evento miraculoso: o transporte imediato do barco e dos homens para o seu local de destino. Os relatos sinópticos não dão qualquer indício disso e Mateus 14: 34 parece indicar exatamente o contrário. O milagre observado pelos escritores sinópticos é a cessação imediata da tempestade — que pode ser o que João está fazendo alusão aqui —, i. e., uma vez que o mar havia se acalmado, eles chegaram ao destino rapidamente  — ou "imediatamente".

22 - No dia seguinte, a multidão que tinha ficado no outro lado do mar percebeu que apenas um barco estivera ali, e que Jesus não havia entrado nele com os seus discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. 23 - Então alguns barcos de Tiberíades aproximaram-se do lugar onde o povo tinha comido o pão após o Senhor ter dado graças. 24 - Quando a multidão percebeu que nem Jesus nem os discípulos estavam ali, entrou nos barcos e foi para Cafarnaum em busca de Jesus. 

Comentário: Este parágrafo introduz um novo cenário e ainda assim fornece continuidade com o que foi dito anteriormente. A multidão, que parece ter passado a noite na zona rural circunvizinha, vê que os discípulos partiram sem Jesus. Eles obviamente ficam perplexos quanto ao local onde o Senhor poderia estar. Então, embarcando em pequenos barcos provenientes de Tiberíades, eles atravessam o mar e voltam para Cafarnaum em busca dEle.

A frase "... após o Senhor ter dado graças" no verso 23 é um pouco estranha e gerou algumas variações textuais. Uma possibilidade seria "depois de dar graças ao Senhor", embora o genitivo não seja normalmente encontrado nesta forma.

25 - Quando o encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: "Mestre, quando chegaste aqui?" 26 - Jesus respondeu: "A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos.


Comentário: Aqui a multidão encontra o Senhor Jesus e obviamente faz a seguinte pergunta: "Como você chegou aqui?". Ao invés de respondê-la, o Senhor trata diretamente da motivação que a multidão tinha para buscá-Lo. Ele declara que o que Ele havia feito não tinha como propósito apenas a alimentação de um grande grupo de pessoas, mas sim uma razão especial. Parece óbvio que o milagre foi realizado para apontar Jesus como o novo Moisés — e ainda mais que isso — e como o cumprimento da Páscoa — e ainda mais que isso. Como Jesus irá em breve falar, o pão que Ele deu aos homens representa muito mais —na verdade, ele representa o "pão da vida".

27 - Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação.

Comentário: Jesus aconselha seus ouvintes a priorizarem aquilo que é valioso. A ênfase errada que eles tinham — claramente vista na motivação para buscá-Lo — é comparada aqui a busca pelo pão que se estraga, ao invés do pão que "permanece para a vida eterna". Este pão, por sua vez, é encontrado em apenas um: o Filho do Homem. Este é o pão que o Pai — o próprio Deus — selou/separou — colocou sua marca nele, por assim dizer. Ao longo deste discurso, Jesus irá fazer uma conexão íntima entre Sua pessoa e a vida eterna que Ele dá. Não se pode ter a vida eterna sem ter uma compreensão adequada dAquele que a dá: o Senhor Jesus Cristo.

28 - Então lhe perguntaram: "O que precisamos fazer para realizar as obras que Deus requer?" 29 - Jesus respondeu: "A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou".

Comentário: O uso do termo "trabalho" no versículo 27 induz a pergunta feita ao Senhor: "O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?". Parece haver uma mudança de foco aqui, uma vez que é provável que a multidão ainda estivesse presa ao milagre ao invés de seu significado. Ou seja, o que eles queriam realmente saber era como poderiam realizar os milagres que Jesus fazia. A resposta de Jesus, assim como suas respostas à mulher no poço, redireciona magistralmente a conversa aos seus objetivos. A obra de Deus, Jesus diz, é crer nEle! Esta é a obra de Deus. Nossos sentidos são frequentemente insensíveis ao tremendo impacto de declarações como esta, devido à nossa familiaridade com a pessoa do Senhor Jesus. Mas é importante tentar entender esse tipo de declaração no contexto em que ela foi originalmente proferida. Nenhum profeta de Israel ousou proferir tais palavras! Eles sempre colocavam o foco exclusivamente em Deus e bem longe deles. Jesus, no entanto, igualou as "obras de Deus" com a fé em Sua pessoa. Quão impetuoso! A menos, é claro, que Jesus seja quem Ele afirme ser nos relatos de João. Os conceitos modernistas de um profeta/professor visionário da Galiléia que era um homem bom, mas certamente não um Messias divino são ridicularizas se expostas a declarações como estas. Nenhum "homem bom" iria igualar a obra de Deus com a fé depositada nele mesmo! A imensidão desta Pessoa Divina é claramente retratada aqui, embora muitas vezes esquecida em uma leitura casual!

30 - Então lhe perguntaram: "Que sinal miraculoso mostrarás para que o vejamos e creiamos em ti? Que farás? 31 - Os nossos antepassados comeram o maná no deserto; como está escrito: ‘Ele lhes deu a comer pão do céu’".

Comentário: Se nós, os modernos, deixamos escapar a importância das palavras de Jesus, os ouvintes de sua época certamente não deixaram. Eles imediatamente responderam — observe a conexão de suas perguntas com o que foi dito antes —  pedindo por sinais e argumentando o seguinte: "Se temos que acreditar em você, precisamos de mais sinais. Você nos deu apenas um e, ainda assim, os nossos pais comeram o maná no deserto não apenas uma vez, mas por muitos anos!". Jesus terá que fazer mais do que um único jantar para poder disputar com o maná!

32 - Declarou-lhes Jesus: "Digo-lhes a verdade: Não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu. 33 - Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo".

Comentário: A citação retirada de Salmos 78: 24, dada pelo povo, identifica especificamente o Senhor como o "Ele" que havia dado o pão no deserto. Possivelmente o povo estava relacionando isso — diretamente ou por implicação — a Moisés, e, portanto, Jesus os corrige. Ou isso ou eles estão fazendo a comparação entre Ele — a quem alguns tinham dito "este é verdadeiramente o Profeta" — e Moisés, e, portanto, Jesus está corrigindo a incompreensão deles em relação a Sua pessoa. Ao invés disso, a fonte do "verdadeiro pão" é o Pai. O Pai deu o maná no deserto, mas agora está dando — tempo presente— o "verdadeiro pão do céu" que não é um alimento perecível, mas sim uma pessoa: "aquele que desceu do céu". Mais uma vez a magnitude destas palavras deve ser aproveitada. Em todo caso, as primeiras coisas —tão preciosas para o povo de Israel — são ofuscadas pela vida e pelo ministério de Jesus, e ainda mais por Sua própria pessoa! O verdadeiro pão é uma pessoa que desceu do céu. Não é de se admirar que os intérpretes liberais, que desejam manter suas opiniões míticas e"psychologizcd" sobre Jesus e sua suposta falta de conhecimento sobre Sua própria missão divina até mais tarde em seu ministério, rejeitam a historicidade da obra de João. Um homem que se descreve como alguém que "desceu do céu” obviamente tem uma visão divina acerca de suas origens!

Existe também outro paralelo — mas incompleto, é claro —: assim como o maná desceu do céu e forneceu o sustento para o povo de Deus durante a sua permanência, Jesus também desceu do céu para ser o sustento do povo de Deus — e de sua salvação. Jesus irá utilizar este tipo de simbologia dualista durante todo esse discurso, referindo-se à realidade física do maná para representar a realidade espiritual da fé nEle. Lamentavelmente, esse dualismo foi perdido pela igreja romana, que lê nesta passagem a sua própria doutrina errônea da transubstanciação, e, assim fazendo, inverte a direção que o próprio Senhor está tomando na conversa. Eles, assim como os ouvintes do primeiro século, não conseguem enxergar a realidade por trás do símbolo.

34 - Disseram eles: "Senhor, dá-nos sempre desse pão!" 35 - Então Jesus declarou: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede.

Comentário: A multidão continua em sua cegueira, incapaz de ver o verdadeiro significado das palavras de Jesus. Ainda lembrando da alimentação dos 5.000, eles clamam pelo fornecimento contínuo do pão celestial. Em resposta, Jesus é bem específico: Ele mesmo é o pão. Aquele que "vem a mim", uma clara referência à fé — como o paralelo irá mostrar —, não terá fome — daí, o pão é espiritual, não natural — e aquele que "crê em mim" nunca mais terá sede. A referência à sede parece um pouco fora de contexto aqui, uma vez que até este ponto apenas temos tratado de alimento. Mas a verdade é que não existe nenhuma dificuldade, pois Jesus não está se referindo ao consumo físico de alimentos, Ele está se referindo à necessidade espiritual. O homem tem uma necessidade espiritual — símbolo: fome e sede — e Jesus atende a essa necessidade por completo e para sempre. Os termos "vir" e "acreditar" irão se tornar "comer" e "beber" no verso 54. Existe uma clara progressão nestes termos que será registrada no comentário.

36 – Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes.

Comentário: O Senhor conhece os seus corações, seus pensamentos, suas mentes. Apesar de eles terem confessado que Jesus era um profeta (verso 14), Ele sabe que eles não "creram", pois este não é o nível mais alto e mais verdadeiro de fé que João descreve em seu evangelho. Apesar de eles terem visto o pão da vida, não acreditaram nEle. Eles foram confrontados com a revelação do próprio Deus, mas não a aceitaram. No versículo 40, Jesus irá dizer que todos os que "olham" (theoron) para o Filho têm a vida eterna. Aqui Ele diz que eles têm visto (heorakate) a Ele. Mais uma vez temos aqui o dualismo de João. O que se segue, até o versículo 47, parece ser uma explicação para a rejeição por parte desses discípulos distintos (v. 66) quando confrontados com a realidade da Sua pessoa. A diferença entre aqueles que irão ficar com Jesus e aqueles que se afastam é simplesmente essa: a atração do Pai.

37 - Todo o que o Pai me dá, virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora; 38 - porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39 - A vontade daquele que me enviou é esta, que eu nada perca de tudo o que ele me tem dado, mas que eu o ressuscite no último dia.

Comentário: Esta seção continua o pensamento do versículo 36. Jesus apresenta a completa soberania de Deus na salvação. Todo o que o Pai dá a Jesus virá a Ele. O fator operativo em responder à pergunta do por que alguns vêm a Jesus e outros — quando expostos a mesma oportunidade — não é simplesmente a natureza da escolha do Pai. O Pai "dá" pessoas ao filho — um presente de amor, com certeza. Quando o Pai "dá" ao Filho uma pessoa, essa pessoa virá a Cristo — que é o único caminho para o Pai. Não há dúvida de que se uma pessoa é dada a Cristo — ou, usando a terminologia do verso 44, é atraída pelo Pai — ela virá a Ele. Este é o lado divino da salvação: absoluta certeza e segurança. No entanto, Jesus também menciona a resposta humana — não que o ser humano possa mudar a decisão de Deus, mas que a resposta humana também está lá. O homem não é retratado apenas como uma "coisa" pulando de um lado para outro, mas sim como uma pessoa muito importante que vem a Cristo para a salvação, e isso conforme o resultado da obra da Graça de Deus em sua vida.

Jesus continua dizendo que quando alguém é dado a Ele pelo Pai — e vem a Ele —, esse alguém está seguro em seu relacionamento com Ele. Ele nunca irá lançá-lo fora. O subjuntivo aorista de forte negação deixa claro que a suposta rejeição de quem busca refúgio em Cristo é uma impossibilidade completa e total. Que palavras bonitas para o coração do pecador! Aqueles que vêm a Cristo irão descobrir que Ele é um Senhor amoroso que nunca lançará fora os que confiam nEle!

Por que o Senhor nunca lançará fora aqueles que vêm até Ele? O verso 38 explica: o Filho veio para fazer a vontade do Pai. E qual é a vontade do Pai? Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Será que podemos duvidar que Cristo fará aquilo que promete? Será que o Senhor Jesus irá falhar e não realizar a vontade do Pai? Aqui temos, sem sombra de dúvidas, a segurança eterna do crente. Mas note que, mais uma vez, tudo está preeminentemente equilibrado. A segurança do crente é baseada em duas coisas: a vontade do Pai de que nenhum se perca e, em segundo lugar, o fato de que aqueles que não se perdem são os mesmos que são dados ao Filho pelo próprio Pai. Assim, na realidade, há segurança no Pai — Ele nos dá a Cristo — e segurança no Filho — Ele sempre faz a vontade do Pai.

Uma observação interessante é encontrada no fato de que no versículo 37, o termo "todo" significa, literalmente, "todas as coisas" — i. e, temos um termo grego neutro não masculino. Mas na frase seguinte, onde se lê e o que vem a mim, de modo nenhum lançarei fora..., o primeiro "o" é masculino — i. e., pessoal. Para mim, isso parece ser proposital da parte de João, e a mesma diferenciação de neutro/masculino, coisa/pessoa é encontrada no verso 39. Eu acho que essa diferenciação ocorre pela seguinte razão: quando se está na perspectiva do decreto absoluto e eterno de Deus, João usa o termo neutro para se referir ao conjunto desse decreto — que inclui todos os indivíduos eleitos por Deus. Mas quando estamos na perspectiva da resposta pessoal do indivíduo, ele volta a usar o pronome pessoal masculino.

40 - Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia".

Comentário: A "vontade do Pai" para o Filho foi expressa no verso 39 e agora é expressa de forma diferente. Mais uma vez, é apresentado o equilíbrio perfeito e completo entre o papel de Deus e a resposta do homem na salvação. No versículo 39 temos a garantia do sucesso do Filho em salvar aqueles que foram dados pelo Pai. No versículo 40 temos a promessa de que todos os que olharem para o Filho e acreditarem n'Ele terão a vida eterna. Pelo que lemos acima, é evidente que muitos olham para o Filho, mas não acreditam. A diferença operativa está na atração — ou "capacitação" — do Pai. Aqui está claro que o termo "todo" refere-se aqueles mencionados no contexto imediato, ou seja, todos aqueles que o Pai deu ao Filho. Para esses, é o olhar e o acreditar que traz a vida eterna — uma vez que a atração do Pai é invisível para eles —, eles veem somente a Cristo.

Deve-se notar que uma "doutrina" excepcionalmente elevada acaba de ser apresentada aqui. Será que ela não está fora de lugar? Seria de se esperar que este tipo de ensino estivesse em Efésios ou Filipenses — ou talvez estivesse mais "em casa" nas Institutas de Calvino —, mas entre uma multidão de galileus na sinagoga de Cafarnaum? Será que realmente devemos nos assustar com o fato de que as pessoas acharam as falas de Jesus "difíceis de ouvir"? Por que então essa "doutrina elevada" se encontra aqui?

Eu sinto que a resposta dos homens, que tentava projetar um plano puramente físico a partir dos ensinamentos espirituais de Cristo — o que é demonstrado pela sua incapacidade de enxergar a realidade espiritual por trás do símbolo físico —, induziu uma explicação da parte de Jesus. Por que as pessoas respondem de maneiras tão diferentes a Suas palavras e obras? Jesus não está à procura de seguidores no nível que eles se encontravam: eles precisavam saber a verdade de sua missão. Ele veio buscar e salvar o perdido — mas não todos os perdidos. Aquele que o Pai deixa em sua própria escuridão irá responder a Cristo de maneira muito diferente daquele que foi dado a Ele pelo Pai. É hora de separar os verdadeiros dos falsos discípulos, os chamados daqueles que são caprichosamente interessados. A "doutrina elevada" não é nada mais do que a verdade em sua forma mais pura. Ela foi criada tanto para o teólogo como para o agricultor.

41 - Com isso os judeus começaram a criticar Jesus, porque dissera: "Eu sou o pão que desceu do céu". 42 - E diziam: "Este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como ele pode dizer: ‘Desci do céu’?”.

Comentário: A reação humana da multidão não é surpreendente. A afirmação de Jesus finalmente a penetrar suas mentes, embora eles pareçam estar fugindo da mensagem do Senhor! Eles começam a criticá-lo por causa de Sua reivindicação de origem celeste. As perguntas são simples: Não é este Jesus, o filho de José? Podemos nos opor ao termo "filho de José", uma vez que Jesus nasceu de uma virgem, mas isso pode não estar na mente de João — ao menos não aqui. A ênfase está mais sobre o fato de que a família e as origens de Jesus eram conhecidas na sinagoga de Cafarnaum — eles conheciam a família do Senhor. Pensando em termos estritamente humanos — não entendendo a declaração do próprio João de que o Verbo se tornou carne, ou seja, da natureza dual do Senhor — como poderia este cujos pais conhecemos afirmar que "desceu do céu"?

43 - Respondeu Jesus: "Parem de fazer-me críticas. 44 - Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia.


Comentário: Jesus deixa de lado as queixas e acusações dos homens ao apontar a incapacidade deles aceitarem Suas afirmações sobre si mesmo. Em termos ainda mais fortes Ele reitera que o que havia dito antes: ninguém tem a capacidade de vir a Ele a menos que o Pai o traga. A formulação é precisa: ninguém é capaz — ou dunatai, uma frase de capacidade. Como Paulo mais tarde afirma, o fato de o homem natural não ser capaz de entender as coisas espirituais é um princípio da esfera espiritual. Isso foi expresso por Jesus como a razão das pessoas serem incapazes de entender ou aceitar sua origem divina. A "atração" do Pai é absolutamente necessária. O termo helkuso é usado em outras partes do evangelho de João: quando Jesus atrai todos para Ele mesmo ao ser levantado da terra — João 12:32, embora aqui seja Jesus quem esteja atraindo — e no final do evangelho, quando Pedro "arrasta" a rede cheia de peixes para a praia. É impossível afirmar que a atração seja "universal" aqui, pois todos os que são atraídos são também ressuscitados: o Pai atrai e o Filho ressuscita aqueles que são atraídos. Isso é exatamente paralelo aos versículos 37-39 acima, só que em termos mais gritantes. Esta é a eleição de acordo com Efésios 1 e Romanos 8-9.

45 - Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão ensinados por Deus’. Todos os que ouvem o Pai e dele aprendem vêm a mim. 46 - Ninguém viu o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu ao Pai.

Comentário: Em defesa do ensino presente no verso 44, Jesus salienta que as próprias Escrituras haviam indicado isso: Isaías 54: 13 é a referência. Neste contexto Jesus está especificamente relacionando isso ao "ouvir" as palavras do Pai. "Ouvir" é mais uma daquelas palavras usadas por João de maneira dualista: alguns ouvem, mas não "ouvem". Outros ouvem e creem. Todos os que "ouvem" desta maneira — a partir do Pai — vão a Cristo. Eleição divina mais uma vez! Jesus afirma que os que ouvem o Pai e aprendem com ele, vem a Cristo, continuando a ideia principal dessa seção, i. e., de que o "Pai dá ao Filho". Mais uma vez, a resposta do homem é vir a Cristo. Este formato é visto novamente no capítulo 17, quando Jesus ora e diz: Eles — os discípulos — eram teus; tu os deste a mim, e eles têm guardado a tua palavra. A fórmula é a mesma aqui: 1 - o Pai possui os eleitos de forma soberana; 2 - Ele graciosamente dá os eleitos ao Filho; 3 - os eleitos respondem pela fé no Filho. A repetição desta verdade ao longo do livro é uma prova de sua importância para Jesus.

O verso 46 é paralelo a João 1:18: Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, o que existe eternamente no seio do Pai, o tornou conhecido. Jesus é a única avenida de conhecimento do Pai — Mateus 11:27, João 14:6. Isto tem grandes implicações no estudo de "outras" religiões, na rejeição do relativismo e no exclusivismo arraigado do Cristianismo.

47 - Asseguro-lhes que aquele que crê tem a vida eterna. 48 - Eu sou o pão da vida. 49 - Os seus antepassados comeram o maná no deserto, mas morreram. 50 - Todavia, aqui está o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer. 51 - Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo".


Comentário: Quem crê, diz Jesus, tem — tempo presente, ação contínua — a vida eterna. A vida eterna não está relacionada simplesmente à duração da vida, mas também à qualidade de vida — não é apenas algo futuro, mas presente também. Mas no que essa pessoa "crê"? Na Bíblia a fé sempre tem um objeto — nunca existe num vácuo. A fé não é uma entidade separada com existência própria. Parece que, no contexto, o principal objeto da fé é a pessoa de Jesus Cristo — o que é visto de várias maneiras. Primeiro, no versículo 46 Ele afirma ser "aquele que vem de Deus". No versículo 48 Ele fala que é o pão da vida. Ambas as declarações são afirmações sobre quem Jesus é — e, portanto, são objetos próprios da fé. Além disso, a maior parte da tradição textual lê "crê em mim" no verso 47. Aparentemente muitos escribas posteriores viram a fé como sendo aquela exercida no Senhor Jesus, e isso se encaixa muito bem no contexto.

Após a repetida afirmação de Ele ser o pão da vida, parece que estamos voltando à conversa original depois de tratarmos (com necessidade) daquilo que diz respeito à origem da fé verdadeira: o Pai. Jesus agora recomeça a busca do tópico original. Os pais do êxodo comeram o maná no deserto e morreram, mas o pão que desce do céu — Ele mesmo — é muito superior — Ele toma a comparação anterior entre o maná e o milagre da alimentação dos 5.000 — ao maná, pois esse era simplesmente um retrato daquilo que viria posteriormente em Cristo. Aquele que "come" deste pão nunca morrerá. O "comer" aqui é paralelo ao "crer" do verso 47: qualquer tentativa de tornar isso uma ação física perde todo o propósito da fala do Senhor. Aquele que crê tem a vida eterna: quem come do verdadeiro pão do céu nunca morrerá. Comer = acreditar.

Esta fé é uma questão pessoal, pois envolve "comer" o verdadeiro pão — que é o próprio Jesus, verso 51. Comer o verdadeiro pão significa ter vida eterna, e este pão, diz Jesus, é a Sua carne "que será dada pela vida do mundo". Não é a carne de Jesus, por si só, que é o objeto aqui. É a Sua carne como dada em sacrifício que traz a vida eterna. É o sacrifício que dá a vida e não a carne simplesmente. Ao doar a Sua vida, o Filho fornece vida ao mundo. O contexto novamente exige uma interpretação estrita do termo "mundo". João usa kosmos em muitas maneiras diferentes, mas aqui está bem claro quekosmos se refere apenas aqueles que são atraídos pelo Pai, dados pelo Pai ao Filho, e que respondem pela fé no Filho. Para ser consistente, é necessária uma ênfase contínua sobre este grupo.

52 - Então os judeus começaram a discutir exaltadamente entre si: "Como pode este homem nos oferecer a sua carne para comermos?”.

Comentário: Os judeus, ainda interpretando a conversa no plano físico, e recusando seguir a Jesus acerca da verdade espiritual subjacente a simbologia de Suas palavras, começam a discutir entre si acerca disso. É intrigante que frequentemente os homens brigam entre si por causa de teologia ao invés de deixarem a Palavra decidir a questão. Isso é verdade ainda hoje. As coisas mudam muito pouco ao longo do tempo. Os homens perguntam como Jesus pode dar a sua carne para eles comerem. É claro que Jesus não está dizendo que Ele irá fazer isso. Ele está falando de Seu sacrifício vindouro, do resultante perdão de pecados e da vida eterna para todos aqueles que estão unidos a Ele.

53 - Jesus lhes disse: "Eu lhes digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. 54 - Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.

Comentário: Jesus decide descer ao nível deles em uma tentativa de levá-los até o Seu. Ele prossegue com a metáfora, já firmemente estabelecida, de "comer = crer". O único caminho para a vida eterna é através da união com o Filho do Homem. Trata-se de uma relação vital de fé com Ele, simbolizada aqui por comer sua carne e beber seu sangue. Para completar a equação, Jesus coloca "comer a minha carne e beber o meu sangue" exatamente na mesma posição de ouvir a Sua palavra e crer naquele que enviou Jesus em João 5:24, ou de serem atraídos pelo Pai em 6:44, ou de olhar para o filho e crer em 6:40, ou simplesmente de acreditar em 6:47. O resultado é o mesmo em cada caso: a vida eterna — i. e., ser ressuscitado no último dia. Por isso, nós temos aqui uma indicação clara do uso da metáfora de comer sua carne e beber seu "sangue", em João 6. Graficamente teríamos:
Portanto, a interpretação sacramental desta passagem é deixada sem fundamento algum. Obviamente, Jesus não está falando de um "sacramento" da "Eucaristia" estabelecido anos mais tarde. Sua referência a Seu corpo e Seu sangue aqui é claramente paralela à crença no filho e a atração do Pai — os mesmos temas tratados acima. Para ser consistentes devemos rejeitar uma interpretação sacramental desta passagem.

55 - Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. 56 - Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57 - Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa.

Comentário: A razão pela qual se pode ter vida eterna ao comer a carne e beber o sangue do Filho é, simplesmente, que o Filho é a "verdadeira comida e a verdadeira bebida". Ele é a única fonte de sustento espiritual verdadeiro. É pela fé vital que se une a Cristo (João 15:4-8). Este é o lugar onde a vida pode ser encontrada. À parte de Cristo, o crente não pode fazer nada (15:5), pois Jesus é a fonte de toda a vida. A vida vem do Pai, que é dada a nós no Filho e é nossa somente nEle e por meio dEle. Sabendo que a vida eterna vem pela fé, o comer e beber são símbolos da dependência contínua na fé em Cristo. Aqui está a chave para a vida cristã: a dependência no Senhor Jesus Cristo em todas as coisas. Não há outro caminho para a vida eterna.

58 - Este é o pão que desceu do céu. Os antepassados de vocês comeram o maná e morreram, mas aquele que se alimenta deste pão viverá para sempre". 59 - Ele disse isso quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum.

Comentário: Este discurso fantástico termina com uma advertência solene: os pais não comeram deste pão e morreram. Será que seus ouvintes irão compreender esse aviso? João irá nos dizer que dentre os homens são poucos os que irão ouvir e crer — e isso porque eles foram escolhidos por Deus. Os homens continuarão a buscar o natural — o pão físico — e a ignorar o verdadeiro pão espiritual oferecido em Jesus Cristo.

João enraíza a extremidade oposta deste sermão na história novamente, pois estas palavras foram pronunciadas na sinagoga de Cafarnaum, um lugar real, em uma época real. O mistério do Divino proferindo estas palavras na história: o maior de todos os mistérios.

60 - Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: "Dura é essa palavra. Quem consegue ouvi-la?" 61 - Sabendo em seu íntimo que os seus discípulos estavam se queixando do que ouviram, Jesus lhes disse: "Isso os escandaliza? 62 - Que acontecerá se vocês virem o Filho do homem subir para onde estava antes!

Comentário: É triste ver o uso de João do termo "discípulo" aqui: muitos tinham seguido a Jesus de uma forma que poderia ser chamado de "discipulado", mas que não era uma convicção sincera, pois não havia a "atração" ou a capacitação do Pai dentro deles. Eles ficaram "escandalizados" pela dureza das palavras de Jesus. Muitas pessoas ficam. Muitos odeiam o forte ensinamento da Bíblia. O relativismo é o veneno mortal do homem moderno. A pergunta, "Quem consegue ouvi-la?" entra na categoria de duplo uso da palavra "ouvir" no evangelho de João. Somente aqueles que "ouvem" do Pai e aprendem com Ele tem a vida eterna.

Jesus conhece os pensamentos desses discípulos superficiais e faz a eles uma simples pergunta: Se eles estão escandalizados com essas verdades básicas sobre Sua pessoa, o que eles irão fazer se o verem em Sua glória, a mesma glória que Ele compartilhou com o Pai antes de o mundo vir a existir (João 17:5)? Certamente isso seria ainda mais difícil de eles lidarem. Como Jesus disse a Nicodemos: Se eu falo com você das coisas terrenas e você não acredita, como é que você irá acreditar quando eu falar você das coisas celestiais?

63 - O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. 64 - Contudo, há alguns de vocês que não creem". Pois Jesus sabia desde o princípio quais deles não criam e quem o iria trair.

Comentário: Pode haver de fato uma nota de exasperação na voz de Jesus aqui. Será que nem mesmo esses discípulos entendem a diferença entre espírito e carne? Porventura, elas não entenderam a óbvia dualidade aqui? É o Espírito que dá vida — a carne não produz nada que se aproveite. Estas palavras de Jesus são espírito e vida — mas ainda assim eles não entendem, porque não acreditam. Jesus sabia quem não acreditava assim como sabia quem iria traí-lo.

65 - E prosseguiu: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". 66 - Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.

Comentário: O uso do tempo imperfeito aqui indica uma ação continuada — ou, neste caso, provavelmente uma ação iterativa — no passado. Jesus não disse isso a eles apenas uma vez, mas muitas vezes: "ninguém é capaz de vir a Mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". Algumas traduções dizem "a menos que o Pai o capacite". Vir a Cristo não é o resultado de uma conversa persuasiva. Jesus foi o maior orador de todos os tempos, no entanto, muitos de seus discípulos "voltaram atrás e deixaram de segui-lo". Se o homem pudesse ser convencido desta forma, essa multidão certamente teria sido convencida. No entanto, o fator operativo estava faltando: a capacitação do Pai. A soteriologia de Jesus é, sem sombra de dúvidas, centrada em Deus. Pode-se explicitamente ver o fundamento da teologia de Paulo expresso bem aqui.

67 - Jesus perguntou aos Doze: "Vocês também não querem ir?” 68 - Simão Pedro lhe respondeu: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. 69 - Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus".

Comentário: Pode-se ver o Senhor Jesus se voltando a seu pequeno grupo de discípulos. Foi um dia bem difícil para eles. Eles viram o milagre da alimentação dos 5.000 e, logo depois, o Seu Mestre rejeitar a realeza oferecida. Eles viram Jesus andar sobre as águas. Mas depois disso viram as falas mais difíceis que Jesus tinha proferido até então. Este Messias é bem diferente do que o que eles estavam esperando! Nesse momento, a grande multidão estava saindo. Muitos estão indo embora. Tudo parece estar terminando em fracasso. E Jesus se volta para eles e pergunta: "Vocês também não querem ir?".

O impetuoso Simão Pedro responde por toda a equipe de discípulos: "Senhor, para quem iremos?" Quão valiosas essas palavras devem ter sido para o Senhor! Pedro confessa que estes homens compreendiam que Suas palavras eram referentes à vida eterna, e que eles têm acreditado e conhecido — ambos no presente perfeito — que Jesus é o Santo de Deus. Que conforto isso foi ao Seu coração. Os propósitos de Deus serão cumpridos. Estes homens são alguns dos dados ao Filho pelo Pai, e o Pai está mantendo sua promessa de ensiná-los. Ele tem feito isso, e eles respondem seguindo a Cristo, mesmo estando em minoria.

70 - Então Jesus respondeu: "Não fui eu que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!" 71 - (Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos Doze, mais tarde haveria de traí-lo.).

Comentário: Há amor na voz de Jesus quando Ele fala de que escolheu estes homens. Ainda assim, mesmo aqui, a terrível traição não é deixada fora de vista. Um desses homens não entende o amor de Jesus. Um desses homens é o "filho da perdição". Somente depois de Judas deixá-los na noite da traição foi que Jesus teve total liberdade de abrir Seu coração para estes homens a quem ele amava "completamente" (João 13:1).

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Autor: Dr. James R. White
Fonte: Alpha & Omega Ministries 
Tradução/Adaptação: Erving Ximendes
Revisão: Bruno Matias

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