sábado, 16 de julho de 2016

MORTE DA FÉ

MORTE DA FÉ


  
Quando o Filho do Homem voltar, porventura encontrará fé na terra?”


  
Nada é mais triste de ver a morte da fé nesta geração!

Há crença, há misticismos, há correntes e barganhas, mas não há fé!

A fé é a certeza de coisas que se esperam e a firme convicção de fatos que se não vêem.

Portanto, a fé não trabalha com o visível, mas com o invisível; e não se estriba no que é perceptível aos sentidos, mas sim no que a eles não está disponível.

A fé faz as “coisas que se esperam” se tornarem “certezas” e faz “os fatos que se não vêem” tornarem-se “convicções”.

Assim, a fé antecipa e goza o que ainda não se materializou, como quem vê concreção no invisível ou no ainda não “acontecido” ante os sentidos.

Ora, sem fé, esperança e amor ninguém cresce em temor e reverencia para com Deus e a vida!

Posto que o que se crê e espera ainda não se manifestou aos sentidos, mas a fé santifica aquele que crê durante a “espera”.

Esta é a razão de vermos tanta maldade falada e feita em nome da “fé”, pois, “tal fé” não é nada além do ódio religioso que anima dos doentes contra os antagônicos.

A religião [e seus fanatismos] produz apenas o ódio como fé. Sim! É fé na existência do inimigo, não na realidade de Deus.

Pela mesma razão é que campeia entre nós a alegria pela catástrofe do adversário humano!

A “fé” que entre “nós” se propaga é certeza de que o mal alcançará aqueles que desejamos ver esmagados. É “fé” na vingança...

Olho para esse “meio religioso” e fico aturdido com a possessão de desamor que tomou conta de quase todos. Enquanto isto a iniquidade cresce...

Cresce... E os agentes dela ficam cada vez mais insensíveis.

Leio coisas que “crentes” escrevem aqui na Internet e me encho de angustia.

Acabou o amor. Morreu a reverencia. Institui-se a banalidade das palavras. Extinguiu-se a verdade. Amparou-se a mentira. Deu-se asas ao engano. Tudo em nome de Jesus.

E o diabo se ri dos “crentes”!...

Quando do Dia Mal chegar [e ninguém se engane, pois ele vem, e não tardará], então se verá essa multidão gritando por misericórdia, enquanto rangerão os dentes em dores de raiva...

Então dirão:

“Senhor! Comias e bebias em nossas ruas!...”

“Senhor! Em teu nome tiramos demônios, profetizamos e fizemos milagres!...”

“Senhor! Por que não abres a porta?...”

Mas o Senhor lhes dirá:

“Nunca estive com vocês! Não os conheço. Vocês usarem meu nome, mas nunca me conheceram. Meu nome só é verdadeiro na boca de quem me conhece!”

Enquanto isto... — os meninos vão brincando de Deus e com Deus...

Mas a porta vai fechar!

Veja o que aconteceu a você!

Pergunte-se: O que me anima é fé, ou é apenas o ânimo da guerra da religião excitada pelo inferno?
  
Nele, que busca nos acordar enquanto é tempo e dia chamado Hoje,


Caio

06/10/07
Lago Norte
Brasília

VOCÊ CANSOU DA BONDADE?...

VOCÊ CANSOU DA BONDADE?...

Nós, humanos, temos enorme facilidade de mudarmos para o mal; está na nossa natureza caída esta tendência; e, entregues a nós mesmos, é da nossa perversa natureza a inclinação mutante para o que não seja aquilo para o que fomos criados.

Difícil mesmo é mudarmos dia a dia para o melhor de nós; para a semelhança de Deus; para o amor, a alegria, a paz, a bondade, a longanimidade, a mansidão e o domínio próprio.

Entretanto, mudarmos na direção do que seja bom é como subir uma ladeira, é como entrar pela porta muito estreita, é como escolher o caminho que poucos escolhem percorrer, é como nadar contra o fluxo das correntezas, é como a vereda aquática do salmão buscando morrer no lugar onde aconteceu a sua origem...

A maior evidencia dessa capacidade natural de piorar a gente se observa nas crianças. Sim, lindas, santas, puras, espontâneas, livres, abertas, perdoadoras, e tudo de bom; mas que, logo, logo, pelas influencias recebidas, não demoram a aprender aquilo que lhes dês-configurará em relação ao que um dia tiveram como divina beleza natural.

Outra grande evidencia é a mudança negativa do santo; sim, daquele que conhecemos humilde, simples, ensinável, feliz na fé, amante dos pequenos, paciente, temente a Deus, puro de coração, limpo de lascívias, receoso de magoar, de humilhar, de falar mal, de gritar de raiva, de irar-se, de se tornar deveras exigente, de nunca esquecer a gratidão; sim, sempre olhando para trás e vendo o que recebeu de graça, o que lhe veio como dádiva, o que não lhe era natural, mas que nele foi enxertado, aplicado e inserido contra a sua própria natureza —; mas quecom o tempo, com o hábito ao sublime, ou com alguns serviços prestados [supostamente a Deus, à causa, ou ao próximo], começa a sentir-se dono de si mesmo, da sua natureza, dos seus direitos; lentamente tornando-se patrão da vida, exigente, impaciente, descontrolado, arrogante, sem pequenas compaixões [às vezes mantendo apenas as grandes compaixões], porém, sem cuidado no trato geral; e, desse modo, arrumando concessões para si mesmo; praticando auto-indulgências antes inconcebíveis; e, sem que o note, bem gradualmente, vai se desfigurando [...], como disse, sem que isto lhe seja perceptível; sim, sem que sua feiura lhe seja revelada; especialmente se um dia a vida com Deus foi muito real, o que, paradoxalmente, agora, lhe serve de álibi para ser contra o que foi chamado a manifestar no ser.

Jesus disse que o sentimento de demora acerca da Vinda do Filho do Homem geraria essas mutações em muitos; todavia, deve-se interpretar esse sentir de demora também como o passar do tempo da vida da gente na fé, ou como a não realização do bem por nós crido, ou também como cansaço em relação ao trabalho do amor [...], que é como o de enxugar gelo, sem recompensas e sem férias; ou ainda: como a exaustão de si mesmo, quando as dinâmicas da renovação do amor não aconteceram em nós pelo habito ao sublime, ou pelo autoengano de que já se alcançou demais ou bastante no entendimento do Evangelho.

Daí a advertência de Paulo quanto a não nos cansarmos de fazer o bem a todos os homens!

Sim; o que nos salva de tal processo [o qual é inevitável que a todos os santos acometa de um modo ou de outro, uma hora ou outra, numa ou noutra estação da vida], é o desafio não seletivo de que se deva fazer o bem sempre e a todos os homens.

Do contrário, elegemos ocasiões, pessoas e circunstâncias para as expressões das nossas bondades, e, quanto aos demais, ficamos indiferentes, ou, em alguns casos, especialmente ante aos chatos, descuidados, cronicamente tropeçantes, ou quanto àqueles que nos perturbam [...] — deixamos de ser aquilo que, para os nossos eleitos, nós somos, ou, pelo menos, buscamos ser...

Eu creio no que digo, tanto quanto sei o que digo; pois, em mim mesmo, provei tais sutilezas!

Durante mais de vinte anos meu coração não vacilou na bondade, na paciência, na longanimidade, na humildade, no coração sempre quebrantado em relação ao meu próximo; até que [...] veio o cansaço; o cansaço do bem sem retorno; a exaustão em relação à recalcitrância crônica; o desanimo quanto ao que o bem poderia produzir de mudança nos outros; e, assim, bem devagar [...], sem que eu notasse, fui caindo no amor seletivo, na bondade por eleição, na virtude seletiva; e pior: lentamente fui assumindo conceitos mundanos como se fossem os únicos modos de lidar com certas pessoas ou situações; até que percebi que me havia desconvertido do chamado do amor e da minha vocação essencial.

Ora, a volta ao início de tudo [...] acontece pelo reconhecimento desse desvio do ser; o que, sem apelação, deve ser seguido pelo exercício da entrega dos nossos direitos e razões; os quais devem se expressar também contra toda e qualquer disposição de provar que se está certo; ou de termos pena da nossa solidão na busca do bem; e, sobretudo, pela nossa convicção contra nós mesmos [...]; a fim de que aconteça o Paulo recomenda: “Para que não façamos o que seja do nosso próprio querer!

Maturidade de entendimento que não se renove pela humildade e pelo quebrantamento no exercício do bem, apenas gera pessoas seletivamente bondosas; e nos põe no caminho liso das virtudes escolhidas e praticadas para pessoas pré-selecionadas; o que, sem dúvida, é também hipocrisia.

Em meio a isto tudo [aprendi na prática com o meu pai; além de ser um principio da Palavra], deve-seficar quieto; suportar certas coisas em silêncio; e, se tivermos que tratar delas, buscarmos fazer com toda humildade e mansidão; ainda que estejamos esmados de direitos próprios ou adquiridos.

Entretanto, sei em meu próprio coração como é sutil o caminho para tal desvio; e pior: como é difícil percebê-lo em nós uma vez que ele entre em estado de concubinato com as nossas virtudes selecionadas [...] e com nossos direitos adquiridos pela via do cansaço solitário na pratica do bem.

Ora, a checagem do nosso coração quanto a tais coisas tem que ser mais que diária; de fato, deve ser caso a caso, o dia inteiro; posto que baste um precedente para que a insuportável leveza desse surto se reinicie em nós!

Portanto, não nos cansemos de fazer o bem a todos os homens; sim, pois somente deste modo a nossa salvação se desenvolve em nós; nunca esquecendo que também é essencial que não percamos a alegria e a exultação da esperança da gloria de Deus como vocação da nossa vida; do contrário, as forças do cansaço nos dominam e nos corrompem sem que as sintamos em operação em nós.


Nele, em Quem o caminhar não tem férias, embora deva acontecer em descanso,


Caio
21 de janeiro de 2012
Lago Norte
Brasília
DF

Espiritualidade ou misticismo?

Existe em todo o mundo um movimento entre católicos e protestantes que visa resgatar a mística medieval, especialmente as práticas e as disciplinas espirituais dos monges e freiras da Idade Média, como modelo para uma nova espiritualidade hoje. Esse movimento, geralmente conhecido como "espiritualidade", tem sido defendido por líderes católicos e protestantes e apresenta-se como uma reação à frieza, à carnalidade e ao mundanismo da cristandade moderna, especialmente da ala mais conservadora.


Não discordo de tudo o que os defensores da espiritualidade dizem. Quebrantamento, despojamento, mortificação, humildade e amor ao próximo são conceitos bíblicos e encontramos esses conceitos em vários dos seus escritos. Meu problema não é tanto o que eles dizem, mas o que eles não dizem ou dizem muito baixinho, a ponto de se perder no cipoal de outros conceitos.

Sinto falta, por exemplo, de uma ênfase na justificação pela fé em Cristo, pela graça, sem as obras ou méritos humanos, como raiz da espiritualidade. Uma espiritualidade que não se baseia na justificação pela fé e que não nasça dela está fadada a virar, em algum momento, uma tentativa de justificação pela espiritualidade ou pela piedade pessoal, uma tentativa de se chegar a Deus de forma direta e imediata, sem a mediação de Cristo. Não estou dizendo que os defensores da espiritualidade neguem a justificação pela fé somente - talvez os defensores católicos o façam, pois a doutrina católica de fato anatematiza quem defende a salvação pela fé somente. O que estou dizendo é que não encontro essa ênfase à justificação pela fé em Cristo nos escritos que defendem a espiritualidade.

Sinto falta, igualmente, de uma declaração mais aberta e explícita de que a espiritualidade começa com a regeneração, o novo nascimento, e que somente pessoas que nasceram de novo e foram regeneradas pelo Espírito Santo de Deus é que podem realmente se santificar, crescer espiritualmente e ter comunhão íntima com Deus. A ausência da doutrina da regeneração no movimento pode dar a impressão de que por detrás de tudo está a idéia de que a religiosidade natural, inata, do ser humano, por causa da imago dei, seja suficiente para uma aproximação espiritual em relação a Deus mediante o emprego das práticas devocionais.

O caráter progressivo na santificação também está faltando na pregação do movimento. Quando não mantemos em mente o fato de que a santificação é imperfeita nesse mundo, que nunca ficaremos aqui totalmente livres da nossa natureza pecaminosa e de seus efeitos, facilmente podemos nos inclinar para o perfeccionismo, que ao fim traz arrogância ou frustração.

Também gostaria de ver mais claramente explicado o que significa imitar a Jesus, um ponto que é bastante enfatizado no movimento. Até onde sei, Jesus não era cristão. A religião dele era totalmente diferente da nossa. Nós somos pecadores. Jesus não era. Logo, ele não se arrependia, não pedia perdão, não mortificava uma natureza pecaminosa, não lamentava e chorava por seus pecados. Ele não orava em nome de alguém e nem precisava de um mediador entre ele e Deus. Ele não sentia culpa pelo pecado - a não ser quando levou sobre si nossos pecados na cruz. Ele não precisava ser justificado de seus pecados e nem experimentava o processo crescente e contínuo de santificação. A religião de Jesus era a religião do Éden, a religião de Adão e Eva antes de pecarem. Somente eles viveram essa religião. Nós somos cristãos. Eles nunca foram. Jesus nunca foi. Como, portanto, vou imitá-lo nesse sentido? É esse tipo de definição e esclarecimento que sinto falta na literatura da espiritualidade, que constantemente se refere à imitação de Cristo sem maiores qualificações. Quando vemos Jesus somente como exemplo a ser seguido, podemos perdê-lo de vista como nosso Senhor e Salvador. Quando o Novo Testamento fala em imitarmos a Cristo, é sempre em sua disposição de renunciar a si mesmo para fazer a vontade de Deus, sofrendo mansamente as contradições (Fp 2.5; 1Pe 2.21). Mas nunca em imitarmos a Jesus como cristão, em suas práticas devocionais e na sua espiritualidade.

Faltam ainda outras definições em pontos cruciais. Por exemplo, o que realmente significa "ouvir a voz de Deus", algo que aparece constantemente no discurso dos defensores da espiritualidade? Quando fico em silêncio, meditando nas Escrituras, aberto para Deus, o que de fato estou esperando? Ouvir a voz de Deus com esses ouvidos que um dia a terra há de comer? Ouvir uma voz interior? Sentir uma presença espiritual poderosa, definida, que afeta inclusive meu corpo, com tremores, arrepios? Ver uma luz interior, ou até mesmo ter uma visão do Cristo glorificado e manter diálogos com ele, como alguns dizem ter experimentado? Ou talvez essa indefinição do que seja "ouvir a voz de Deus" seja intencional, visto que a indefinição abriga todas as coisas mencionadas acima e outras mais, unindo por essas experiências vagas pessoas das mais diferentes persuasões doutrinárias e teológicas, como católicos e evangélicos, conservadores e liberais?

Por todos esses motivos acima, nunca realmente me senti interessado na espiritualidade proposta por esse movimento. Parece-me uma tentativa de elevação espiritual sem a teologia bíblica, uma tentativa de buscar a Deus por parte de quem já desistiu da doutrina cristã, das verdades formuladas nas Escrituras de maneira proposicional. Prefiro a espiritualidade evangélica tradicional, centrada na justificação pela fé, que enfatiza a graça de Deus recebida mediante a Palavra, os sacramentos e a oração e que vê a santidade como um processo inacabado nesse mundo, embora tendo como alvo a perfeição final.

Enfim. Deus me guarde de ir contra a busca de uma vida cristã superior, de desenvolver a vida interior. Que Ele igualmente me guarde de qualquer tentativa de alcançar isso que não esteja solidamente embasada em Sua Palavra.


http://www.ipbv.org.br/16-estudos-e-artigos/devocionais/50-espiritualidade-ou-misticismo