sábado, 10 de junho de 2017

Uma reflexão sobre Salvação! Quem escolhe, nós ou Deus?


Quem escolhe? Deus ou nós?Por: Tiago Vieira
Essa pergunta tem levantado acirrados debates teológicos. Somos nós que escolhemos ser salvos ou é Deus, em Sua soberania, que escolhe quem Ele quer? Será que todos têm oportunidade de salvação? A princípio talvez sua resposta seja: "somos nós que escolhemos, afinal todos tem oportunidade". Mas será que é isso mesmo que a Bíblia ensina? Vamos analisar os textos bíblicos e depois você poderá responder com mais precisão.
A Bíblia não diz que Deus amou o mundo? Sim, com certeza!
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16 RA
E amar o mundo não significa escolher todas as pessoas do mundo?
Não! Veja o que Jesus falou sobre seus discípulos:
“Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês.” João 15:19 NTLH
Então não somos nós que escolhemos a Deus? É Ele que nos escolhe?
Exatamente. Assim Ele diz:
“Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto e que esse fruto não se perca.” João 15:16a NTLH
Quando Ele nos escolheu? Antes da criação do mundo.
"Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa..." Efésios 1:4 NTLH
Mesmo sendo Deus que nos escolheu, será que Ele não nos escolheu por que sabia das
nossas obras futuras?
Não, pois a salvação não depende das nossas obras, mas sim do plano e da graça de Deus.
"Deus nos salvou e nos chamou para sermos o seu povo. Não foi por causa do que temos feito, mas porque este era o seu plano e por causa da sua graça. Ele nos deu essa graça por meio de Cristo Jesus, antes da criação do mundo." 2 Timóteo 1:9 NTLH
Tem algum exemplo na Escritura que mostre isso?
Sim, Jacó e Esaú são um bom exemplo de que Deus não leva em consideração as obras de ninguém na hora de escolher.
"Mas, para que a escolha de um deles fosse completamente de acordo com o plano de Deus, o próprio Deus disse a Rebeca: “O mais velho será dominado pelo mais moço.” Disse isso antes de eles nascerem e antes de fazerem qualquer coisa, boa ou má. Assim ficou confirmado que é de acordo com o seu plano que Deus escolhe aqueles que ele quer chamar, sem levar em conta o que eles tenham feito. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Eu escolhi Jacó, mas rejeitei Esaú.” Romanos 9:11 e 12 NTLH
Amar um e rejeitar outro antes de nascerem não é uma grande injustiça de Deus?
De modo nenhum. Veja:
"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia." Romanos 9:14-16
Que direito Deus tem pra agir assim?
O direito que o Criador tem sobre aquilo que Ele cria.
"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?" Romanos 9:20 e 21
Mas por que Deus escolhe uns e não escolhe outros?
Porque quer mostrar o seu poder sobre os vasos da ira e também mostrar a sua glória nos vasos de misericórdia.
"E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?" Romanos 9:22-24 RC
Acho que Deus pode escolher pessoas para muitas coisas, mas não para a salvação.
Onde a Bíblia diz que é escolha para a salvação?
Em várias passagens das Escrituras, veja um exemplo:
"Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Tessalonicenses 2:13 e 14 RA
Será que não foi por que eu quis buscar a Deus que Ele me deu a salvação?
Não, pois o homem natural, afastado de Deus, nunca o busca. Como está escrito:
"Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." Romanos 3:10-12 RC
Sim, mas eu tive fé. A minha fé não veio antes da escolha de Deus?
Não! Primeiro é preciso que Deus escolha a pessoa, para que então ela tenha fé.
"Pois esta é a ordem que o Senhor Deus deu a nós, o seu povo: “Eu coloquei você como luz para os outros povos, a fim de que você leve a salvação ao mundo inteiro.” Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna." Atos 13:47 e 48 NTLH
Mas a fé é minha ou é um dom de Deus?
A fé é um dom de Deus!
"Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu." Romanos 12:3 NTLH
E o meu arrependimento?
Até o arrependimento tem que ser concedido por Deus.
"E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos." 2 Timóteo 2:24-26 RC
Então ninguém pode ser salvo se Deus não permitir?
Exatamente. Foi isso que Jesus falou.
"E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido." João 6:65 RA
Há mais textos que falam isso?
Sim. Veja:
"Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim; e de modo nenhum jogarei fora aqueles que vierem a mim. Pois eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum daqueles que o Pai me deu se perca, mas que eu ressuscite todos no último dia." João 6: 37-39 NTLH
Então por que Jesus falou até por meio de parábolas? Não foi pra que todas as pessoas
pudessem entender Sua mensagem?
Muito pelo contrário, Ele usou parábolas justamente para que os que não foram eleitos não entendam, não se arrependam e, conseqüentemente, não sejam perdoados.
"Jesus disse a eles: —A vocês Deus mostra o segredo do seu Reino. Mas para os que estão fora do Reino tudo é ensinado por meio de parábolas, para que olhem e não enxerguem nada e para que escutem e não entendam; se não, eles voltariam para Deus, e ele os perdoaria." Marcos 4:11 e 12 NTLH
Eu nunca tinha visto as coisas dessa forma. Pode-me mostrar mais textos que mostrem isso?
Sim. O apóstolo Paulo, após falar sobre o povo de Israel e mostrar que mesmo dentro do povo escolhido haviam escolhidos, fala sobre a época da igreja:
"A mesma coisa também acontece agora, isto é, por causa da graça de Deus, ainda existe um pequeno número daqueles que ele escolheu. Essa escolha se baseia na graça de Deus e não no que eles fizeram. Porque, se a escolha de Deus se baseasse no que as pessoas fazem, então a sua graça não seria a verdadeira graça. E isso quer dizer que não foi o povo de Israel que encontrou o que estava procurando. Quem encontrou foi apenas um pequeno grupo que Deus escolheu; os outros não quiseram ouvir o chamado de Deus. Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Deus endureceu o coração e a mente deles; deu-lhes olhos que não podem ver e ouvidos que não podem ouvir até o dia de hoje.' " Romanos 11:5-8 NTLH
Deus endurece o coração e a mente das pessoas?
Sim, Ele endurece o coração e a mente de quem quer quando isso é necessário para cumprir Seu plano.
"Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados." João 12:40 RA
Pode mostrar algum exemplo disso na Bíblia?
Sim. Faraó é um bom exemplo de alguém que teve o coração endurecido por Deus.
"Porém o SENHOR endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito a Moisés." Êxodo 9:12 RC
"Porque, como está escrito nas Escrituras Sagradas, Deus disse a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu pus você como rei, para mostrar o meu poder e fazer com que o meu nome seja conhecido no mundo inteiro.” Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer e endurece o coração de quem ele quer." Romanos 9:17 e 18 NTLH
Tenho uma dúvida: Judas Iscariotes era um escolhido?
Não, Judas não era um escolhido. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus fala que eles foram escolhidos, exceto Judas.
"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o empregado não é mais importante do que o patrão, e o mensageiro não é mais importante do que aquele que o enviou. Já que vocês conhecem esta verdade, serão felizes se a praticarem. —Não estou falando de vocês todos; eu conheço aqueles que escolhi. Pois tem de se cumprir o que as Escrituras Sagradas dizem: 'Aquele que toma refeições comigo se virou contra mim'. Digo isso a vocês agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam que 'EU SOU QUEM SOU'." João 13:16-19 NTLH
Pedro fala que Judas se desviou para ir para o seu próprio lugar.
“E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.” Atos 1:24 e 25 RC
Isso quer dizer que algumas pessoas já estão predestinadas para a condenação? Veja:
“Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” Judas 4 RC
Se é assim, então quer dizer que Deus criou essas pessoas para serem condenadas? Exatamente.
“O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.” Provérbios 16:4 RC
Existem muitos escolhidos? Jesus disse que não.
"Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Mateus 22:14 RC
E os escolhidos podem perder a salvação?
Não, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus, e nada pode nos separar do amor de Deus, pois é Ele que nos justifica.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar." João 10:27-29 RA
"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor." Romanos 8:38 e 39 RA
"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica." 
Romanos 8:33 RA
Mas há pessoas que abandonaram a fé cristã. Elas não perderam a salvação?
Não, pois na verdade nunca foram salvas. A Bíblia diz que são como porcas que foram lavadas e voltaram para a lama. Jesus diz que nunca conheceu essas pessoas. Mesmo que tenham feito milagres, expulsado demônios e profetizado em Seu nome, nunca foram Dele.
"Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. Pois teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: 'O cachorro volta ao seu próprio vômito' e 'A porca lavada volta a rolar na lama'." 
2 Pedro 2:20-22 NTLH
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade."Mateus 7:21-23 RA
E o que acontecerá com aqueles que morreram sem conhecer a Palavra de Deus?
Perecerão, pois a única forma de salvação é a fé em Cristo.
"Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados." Romanos 2:12 RC
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." João 14:6 RA
"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos." Atos 4:12 RA
Pode citar mais textos que falam sobre o assunto?
Sim. Aí estão:
"... havendo sido predestinados, conforme o propósito d’Aquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória ..."
Efésios 1:11-12
"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder ... e vós fostes feitos nossos imitadores ..."
1 Tessalonicenses 1:4-6
"... tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus ..." 2 Timóteo 2:10
"... segundo a fé dos eleitos de Deus ..." Tito 1:1
"Mas vós sois a geração escolhida ... o povo adquirido ..." 1 Pedro 2:9
"... vencerão os que estão com Ele, chamados, e eleitos, e fiéis." Apocalipse 17:14
"Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste." João 17:2
"Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la." Efésios 2:8 e 9
"... o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam." Atos 18:27
"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." Romanos 8:28-30
"Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível". Mateus 19:25 e 26
"Para ele, os seres humanos não têm nenhum valor; ele governa todos os anjos do céu e todos os moradores da terra. Não há ninguém que possa impedi-lo de fazer o que quer; não há ninguém que possa obrigá-lo a explicar o que faz.” Daniel 4:35
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.” Isaías 45:7
"Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar." Mateus 11:27
"Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."
Filipenses 2:13
Nesse estudo aprendemos que é Deus quem nos escolhe, e nos escolhe entre as pessoas do mundo. Descobrimos que Ele opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, que é poderoso para endurecer o coração de quem quer, e ter misericórdia de quem quer, pois, assim como um oleiro, Ele tem poder sobre o barro para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra, segundo a Sua vontade.
Vimos também que a escolha foi feita antes da criação do mundo, e não levou em conta as nossas obras, nem boas nem más. Deus fez Sua escolha de acordo com o Seu plano. O homem natural não pode nem quer buscar a Deus, pois a própria fé é um dom de Deus, e o arrependimento tem que ser concedido por Ele.
Aqueles que o Pai deu a Jesus inevitavelmente irão a Ele, e os que vão a Ele jamais serão lançados fora. Os eleitos nunca perecerão, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus e da mão do Pai.
Espero que você seja fortalecido na fé em saber que é de Deus que depende a nossa salvação, e que Ele merece todo o crédito e todo o mérito pela obra realizada em nós.

Glória somente a Deus!

DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO - AUGUSTUS NICODEMUS


quarta-feira, 7 de junho de 2017

A oração na madrugada é mais eficaz por que a fila é menor?


Por Leonardo Dâmaso



Introdução

No cenário evangélico pentecostal e neopentecostal, existe uma crença muito “popular” de que a oração na madrugada é “mais forte” do que a oração feita em outros períodos do dia. Muitos cristãos afirmam categoricamente que na madrugada a “fila é menor” para se falar com Deus, uma vez que são poucos os que mantêm certo hábito de orar nesse período que se dá entre a meia noite e o amanhecer. Em vista disso, pela “fila ser menor” na madrugada, Deus responde as orações de forma mais rápida nas mais variadas bênçãos pedidas. A razão de Deus abençoar mais rápido àqueles que mantêm este hábito ou disciplina de oração, dizem os pastores e cristãos pentecostais e neopentecostais, é porque está declarado em Provérbios 8.17 que “Deus” ama os que o amam, e os que de madrugada o buscam o acharão. (ARC) 
    
Quanto ao horário específico para as orações na madrugada variam. Muitos cristãos gostam de orar às 3:00 horas. Entretanto, a maioria crê que um dos melhores horários para se orar é a partir da meia noite. Para ratificar esta ideia [de que a oração na madrugada é “poderosa”], os cristãos recorrem também a outro texto da Escritura, dessa vez descrito no Livro de Atos 16.25-26. É relatado que Paulo e Silas, por pregarem o Evangelho na cidade de Filipos (At 16.11-24) foram presos. No cárcere, por volta da meia noite, é dito que Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (ARA) Portanto, o texto de Provérbios 8.17, juntamente com Atos 16.25-26 é a “base” de que oração na madrugada é eficaz, pois desemboca em bênçãos extraordinárias e instantâneas, como foi no caso de Paulo e Silas.      
  
Não obstante, o meu intuito neste artigo não é declarar através de argumentos hermenêuticos e teológicos que a oração no período da madrugada, independente do horário específico, seja errada nem, tampouco, pecado. Claro que não! Pelo contrário, como cristãos, devemos estar orando diariamente, constantemente. A comunhão com Deus que decorre de uma vida de oração é fundamental e necessária em todos os horários do dia! Portanto, quero enfatizar neste artigo (1) a interpretação correta dos textos supracitados em contraste com a interpretação equivocada feita por muitos pastores e cristãos sinceros, por sinal; e (2) destronar o misticismo da crença popular evangélica pentecostal e neopentecostal de que a oração ou a madrugada possui algum tipo de poder ou fluir especial do qual emana as bênçãos divinas instantâneas.

Explanação

Será, então, que Provérbios 8.17 e Atos 16.25-26 corroboram a oração na madrugada e o horário da meia noite como algo “mágico” e “poderoso” como afirmam muitos pastores e cristãos? Vejamos:

Análise de texto

Provérbios 8.17 – Eu amo os que me amam, e os que de madrugada me buscam o acharão... (ARC)  

A sabedoria é um dos principais temas no livro de Provérbios. Do capítulo 1.8 até 9.18, vemos um esboço compilado de conselhos breves e diretos que expressam a sabedoria divina e eterna. O objetivo destes conselhos divinos, todavia, é levar o leitor a refletir em como aplicá-los nas diversas situações da vida obedecendo-os.

Nos capítulos 8 e 9 a sabedoria é atribuída aos homens. No capítulo 8 “ela está disponível para os mais simples (8.2, 5), mas também é profunda: se o próprio Deus não fez nada sem sabedoria (8.22-31), quem somos nós para tentar orientar as nossas próprias vidas sem ela?”1 Personificada como uma mulher no capítulo 8, a sabedoria, agora, no capítulo 9, “é contrastada com a mulher louca. Elas têm métodos similares, pelo fato de que ambas se assentam nos lugares mais conspícuos da cidade (8.2-3; 9.3, 14) e convidam os simples (8.6; 9.5, 16). A sabedoria oferece recompensas que são mais valiosas do que qualquer tipo de riqueza (8.10-11, 18-19), ao passo que a mulher louca recomenda a doçura das “águas roubas” e a suavidade do pão comido às ocultas (vs.17). As consequências conectadas com estas escolhas são completamente opostas. Os convidados da Sabedoria recebem muitas bênçãos (8.34-35), mas os que se voltam para a loucura perecem e estão nas profundezas do inferno (vs.18).”2  

Via de regra, o capítulo 8 descreve a excelência da sabedoria. O trecho que vai dos versículos 14-21 realça não os beneficiados (vs.14-17) e as bênçãos (18-21) de buscar a sabedoria, mas, contudo, a própria sabedoria. Os pronomes pessoais – eu e me, e o pronome possessivo meu, são enfáticos e se referem à sabedoria. Entretanto, o seu amor é experimentado pelas bênçãos de quem a recebe (vs.18-21). Quanto às bênçãos da sabedoria, certamente elas são de caráter material (3.16; 22.4) e espiritual, embora o aspecto espiritual predomine. Acerca do caráter espiritual das bênçãos da sabedoria, Derek Kidner ressalta que

Se os homens em posição de autoridade (vs.15-16) precisam de sabedoria, é visando a justiça, e não as vantagens. Se ela confere riquezas (vs.18), estas se vinculam com a honra e a justiça (embora justiça possa ter seu significado secundário, “prosperidade” no versículo 18, forçosamente tem seu sentido primário e moral no versículo 20). O versículo 19 deixa a questão fora da dúvida, e vai ainda além dos versículos 10-11. A sabedoria não somente é excelente do que o ouro, assim como a fonte toma procedência sobre o produto; o próprio produto (fruto) da sabedoria é melhor do que o ouro.3

Diante disso, a expressão eu amo os que me amam descreve simplesmente o amor que a sabedoria possui por aqueles que a amam, buscam e desfrutam de suas bênçãos. Provérbios 8.17 não faz menção alguma da oração na madrugada e, tampouco, apoia a crença mística de que, na madrugada, a fila para a oração é menor e que ela possui um poder maior e mágico em relação à oração feita no dia e que Deus a responde de modo rápido. Por outro lado, a sabedoria tem a ver com a graça de Deus, ou seja, é o próprio Jesus, o qual se declarou como a encarnação da sabedoria divina (Mt 11.19; Lc 11.49-51; Jo 6.35; 1Cor 1.24-25; Pv 2.4-5; 3.13-15). Um das melhores traduções para Provérbios 8.17, contudo, seria – Eu amo os que me amam; os que me procuram me acharão (ARA), excluindo, assim, o substantivo feminino madrugada. As outras traduções similares também são a da Almeida Século 21, da NVI e da BJC. 

Análise de texto

Atos 16.25-26 – Por volta da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (ARA)

Paulo e Silas foram para a cidade de Filipos evangelizá-la, permanecendo lá por alguns dias (16.11-12). Através da pregação de Paulo e de seus auxiliares e companheiros de viagem – Silas, Timóteo e Lucas, uma mulher, vendedora de púrpura, chamada Lídia foi convertida pelo Senhor (16.14-15). O evangelismo ocorreu por toda a cidade. Por conseguinte, quando estavam indo orar em certo local, Paulo e seus companheiros se depararam com uma jovem possessa de um espírito de adivinhação que os seguiam já por alguns dias importunando-os com gritos (16.17). Simon Kistemaker afirma que é provável que os gritos da moça fizeram com que muita gente se reunisse e ouvisse Paulo e seus amigos. Todos podiam ouvir a mensagem de salvação. Mas os contínuos gritos da moça passaram a ser um estorvo para o apóstolo na pregação do evangelho, e o transtorno o perturbou de maneira tal que ele teve de intervir e se dirigir ao demônio que habitava a moça.4 Desse modo, Paulo exorciza a jovem e ela fica liberta da atuação demoníaca em sua vida (16.16-18). 

No entanto, aquela jovem, antes de ser liberta das garras de satanás, era explorada e trabalhava como adivinha para pessoas que lucravam com o misticismo que predominava em Éfeso (16.16). Sendo assim, quando Paulo exorcizou o espírito que dominava aquela jovem pitonisa, exorcizou também a fonte de renda daqueles que a exploravam,e presumimos que ela recebeu o dom da salvação e se tornou membro da igreja filipense.6

Em vista disso, sendo levados às autoridades da cidade de Filipos pelas pessoas que exploravam a jovem, Paulo e Silas foram presos (16.24). Então, perto da meia noite, enquanto oravam e louvavam a Deus, ocorre um terremoto e a prisão em que estavam é destruída. Deus intervém poderosamente neste evento singular na história para um duplo propósito: libertar Paulo e Silas da prisão e converter o carcereiro e sua família (16.27-35). 

Assim como em Provérbios 8.17, Atos 16.25-26 também não sustenta o misticismo de que a oração à meia noite ou perto dela desemboca em bênçãos instantâneas e extraordinárias. O texto não ensina que a oração ou o horário próximo à meia noite é um tipo de receita mágica para que ocorram os “terremotos da libertação onde as cadeias da nossa vida ruem”, conforme pressupõe os pentecostais e neopentecostais em sua maioria, claro, com algumas exceções. O propósito da intervenção sobrenatural de Deus através deste um terremoto foi (1) Libertar Paulo e Silas para que estes pudessem evangelizar as regiões ainda não evangelizadas (veja At 16.6-12) e (2) que através desta intervenção miraculosa de Deus o carcereiro, espantado, e sua família, pudessem ouvir o evangelho através de Paulo cressem e fossem salvos, o que, de fato, ocorreu (At 16.27-34). Contudo, não estou dizendo também que Deus não possa intervir soberanamente de forma imediata na vida de um cristão que ora de forma sincera na madrugada à meia noite. Deus pode, sim, contanto se for de sua vontade (1Jo 5.14-15), abençoar um cristão em 24 ou 48 horas após uma oração feita na madrugada, por exemplo. Porém, isso não é uma regra normativa de Deus onde ele sempre abençoa os que oram na madrugada ou por volta da meia noite.

Conclusão

Não há em toda a Escritura um horário específico de oração que Deus tenha determinado ser “especial”, onde responde com bênçãos extraordinárias e instantâneas, e que a fila para a oração seja menor na madrugada. Antes, vemos que Deus nos orientou em sua palavra que devamos praticar a oração de forma constante, sem cessar, como uma disciplina devocional em nossa vida (1Ts 5.17). Isso, portanto, pode e deve ser feito em qualquer horário. O poder não está na oração e no horário em que são feitas, mas no Deus que ouve e responde as orações em bênçãos espirituais e, também, materiais. A oração é um meio de graça que Deus nos proporcionou para nos mantermos em comunhão profunda com Ele. O cristão que não vive em oração não vai desfrutar das bênçãos da oração. A oração nos desapega das coisas supérfluas desse mundo, nos leva cada vez para mais perto de Deus e nos faz desfrutar da alegria da salvação em Cristo Jesus. Que possamos “viver” em oração!  

__________________
Notas:

1. Bíblia de Estudo Palavra Chave – Hebraico e Grego. Notas de Rodapé, pág 679-680.
2. Ibid.
3. Derek Kidner. Provérbios. Introdução é Comentário – Vida Nova, pág 75.
4. Simon Kistemaker. Atos, volume 2, pág 133.
5. Hernandes Dias Lopes. Atos, pág 305.   
6. Simon Kistemaker. Atos, volume 2, pág 133.

***
Fonte: Bereianos
http://bereianos.blogspot.com.br/2014/03/a-oracao-na-madrugada-e-mais-eficaz-por.html

COMO UMA MULHER ENCONTRA DIGNIDADE SENDO APENAS ''DONA DE CASA''? - GEISA BOAVENTURA


segunda-feira, 5 de junho de 2017

A Letra mata! A marginalização do estudo teológico.


Por que existo? Quem sou? Onde estou? Para onde vou?

Todos os cristãos que já se deteram na reflexão destas simples e inquietantes interrogações, experimentaram, ainda que inconscientemente, momentos de reflexões teológicas, pois a teologia é uma fatalidade inerente a todos os crentes que de forma inevitável contemplam os mistérios e revelações divinas.

Neste sentido estrito, a premissa que já reclamamos é de que todos os membros das nossas igrejas são teólogos, mesmo que ignorem ou até abdiquem desta categorização. Se mergulharmos ainda um pouco mais no assunto, extravasando o perímetro delineado pelo cristianismo, poderíamos dizer que toda pessoa reflexiva, que possua um pensamento formalizado acerca de Deus, independente de seu credo, é um teólogo.

Definindo o termo
Mas o que é teologia, afinal?

Antes de respondermos, tenhamos por base de nosso ensaio sobre o tema a teologia acadêmica cristã, isto é, o conhecimento teológico adquirido por meio da teologia formal. Sob esta perspectiva, uma resposta objetiva e clássica seria "fé em busca de entendimento". Se orientados por esta significação, perceberemos que o genuíno desígnio da teologia acadêmica não seria, portanto, examinar a Bíblia para racionalizá-la indiscriminadamente e como conseqüência disso empenhar artifícios na construção de uma crença, muito pelo contrário, o teólogo cristão estuda a teologia para compreender melhor aquilo que previamente acredita a despeito de seu estudo.

Os assassinos da letra
Não obstante todas estas ponderações, não é dificultoso encontrar os opositores do estudo teológico entre grupos religiosos heterodoxos. A bem da verdade, essa característica é peculiar em muitos deles. Entretanto, lastimavelmente, isso é constatado também no seio da igreja evangélica.

Geralmente, o texto áureo e justificativo desse posicionamento são as conhecidas palavras do apóstolo Paulo, as quais dizem: "O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica" (2Co 3.6). Eis aí a questão que lança os fundamentos para a hostilidade de alguns em relação ao estudo teológico.
Pois bem, se o apóstolo Paulo declara que a letra mata, então esse fato é conclusivo. O que alguns precisam descobrir é quem de fato é essa assassina.
O que nos move a ressaltar este ponto é o fato de que essa "tal letra", mencionada pelo apóstolo, tem sido alvo de distorções explicativas prejudiciais à igreja. É bem verdade que a ocorrência desse desvio é advogada por cristãos sinceros, mas que deliberaram marginalizar o estudo teológico acreditando ser esta uma atitude louvada pela Bíblia.
É curioso e paradoxo ao mesmo tempo, mas o fato é que essa tal "letra que mata" vem tendo seu verdadeiro sentido também assassinado por alguns que a tentam interpretar. São aqueles a quem podemos chamar de "os assassinos da letra". Se porventura, você se identifica como um dos tais, por favor não se ofenda! A grande e infeliz verdade é que essa repulsa não se fundamenta num vácuo argumentativo. Qual seria seu "fundamento"? Por que a teologia é marginalizada? Proponho refletir um pouco mais sobre esta questão e depois retornamos ao "homicídio espiritual causado pela letra", o qual supostamente Paulo teria apregoado.

A marginalização da teologia

Quais seriam os fatores que cultivam esta marginalização?

Antes de qualquer palavra, é fundamental esclarecer que não é nossa finalidade aqui censurar a devoção autentica de nossos irmãos. A sinceridade de sua fé não está em pauta. Aliás, um dos fatores que mais ajuda a alimentar a rejeição da teologia, encontra raízes nos próprios teólogos.
Conversando com uma missionária, algum tempo atrás, fui interpelado com uma questão que de certa forma reflete o julgamento de muitos de nossos membros em relação à teologia. A pergunta questionava o porquê de os teólogos serem apáticos em sua piedade e testemunho cristão. Não quero aqui entrar em méritos como a generalização aparentemente injusta deste juízo ou a relatividade interpretativa que pode estar escondida atrás do conceito de apatia, no entanto, inegavelmente, não se exige muitos esforços para identificar comportamentos teológicos que instigam a rejeição da teologia. É um estereótipo pejorativo que parece ser preservado por alguns poucos teólogos, mas que acabam por macular toda a classe. O orgulho intelectual, a racionalização vazia, as conjecturas e especulações são tidos como alguns dos frutos nocivos da teologia.
Contudo, em detrimento deste comportamento que, sabemos, não atinge os teólogos comprometidos com a Palavra de Deus, existem ainda outras objeções alicerçadas no desconhecimento bíblico.
Logicamente, é muito mais confortável escolher os mitos e as lendas do que cultivar uma fé racional, pois esta vai exigir uma atitude trabalhosa em busca do conhecimento, enquanto que aquelas conservam os fiéis na inércia, fazendo-os concordar sem qualquer exercício mental com tudo o que ouvem. Como disse o grande teólogo Agostinho, "Deus não espera que submetamos nossa fé sem o uso da razão, mas os próprios limites de nossa razão fazem da fé uma necessidade". Eis aqui o matrimônio entre a fé e a razão!
Não há duvidas de que enquanto o estudo teológico acadêmico continuar desiludindo os crentes de fantasias místicas que não coadunam com a Palavra de Deus, enquanto não abraçar cegamente o subjetivismo e o emocionalismo que fragilizam a verdade, enquanto não for simpático às inovações que trazem a brisa das heresias, ele continuará sendo marginalizado.
Há ainda casos em que o estudo teológico é marginalizado porque ele incomoda, é inconveniente. É como que uma pedra no sapato dos manipuladores da Bíblia. Quanto menos conhecimento as pessoas possuírem mais facilmente serão controladas. Um comportamento que é assumido pelas seitas onde o líder se encarrega de pensar pelos adeptos e implanta um método sutil de controle total.

A letra mata?

Retomando esta questão, respeitando seu contexto bíblico, alertamos que a letra a que Paulo se referiu não pode ser identificada com o estudo teológico. Até porque o apóstolo, que era um dos doutores da igreja (At 13.1), jamais poderia se encaixar neste perfil. Acreditamos que são dispensáveis aqui quaisquer comentários sobre a erudição e aplicação de Paulo aos estudos. Isso é uma prova cabal dos benefícios da teologia formal!
Acerca de 2 Coríntios 3.6 Paulo estava falando sobre a superioridade da nova aliança sobre a antiga. A morte causada pela letra realmente é espiritual, porém é bom salientar que se trata de uma alusão ao código escrito da lei mosaica. A lei mata porque demanda obediência irrestrita, mas não proporciona poder para isso. É representada pelas tábuas de pedra (3.3). Por outro lado, o espírito vivifica porque escreve a lei de Deus em nossos corações, trazendo-nos a vida em medida muito maior do que realizava sob a antiga aliança. É representado pelas tábuas da carne (3.3). Portanto, como vemos, o texto comentado não fundamenta em qualquer instância a rejeição aos estudos teológicos.Por que teologia?
Os teólogos leigos ainda que inconscientemente se beneficiam da teologia formal. Criticam o estudo teológico, mas lançam mão dele. Todo o legado doutrinário que usufruímos hoje foi preservado por causa do zelo impetrado pelos teólogos que formalizaram a fé por meio de credos, confissões e outras obras. As doutrinas cristãs sobreviveram ao tempo porque o Espírito Santo se encarregou de inspirar e levantar teólogos comprometidos com a fé! O estudo da teologia formal é um instrumento indispensável para o saudável desenvolvimento da igreja. Todos nós precisamos de teologia! Os teólogos leigos deveriam reconhecer o auxílio que recebem dos teólogos acadêmicos e as duas classes representadas, de mãos dadas, deveriam seguir o conselho de Pedro, um teólogo que não possuía a erudição de Paulo, mas que conseguiu equalizar a questão ordenando o crescimento na graça e no conhecimento concomitantemente (2Pe 3.18). Desta forma, o evangelho só ganhará, cada membro da igreja estará no seu posto, lapidando o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do corpo de Cristo, segundo o ministério que lhe for confiado por Deus (Ef 4.11,12).
Sobretudo e finalmente, o nosso desejo e oração é para que consigamos aplicar a teologia à nossa vida. Se fracassarmos neste intento a teologia não será mais que mera futilidade. Que o Senhor nos guie ao genuíno conhecimento de suas revelações, pelo seu amor e para a sua glória.

Por: Elvis Brassaroto Aleixo
Elvis Brassaroto Aleixo é amigo do pastor Alexandre Farias e faz parte do Instituo Cristão de Pesquisa
Pr. Alexandre Farias é Consultor Teológico do Instituto Cristão de Pesquisa é Pastor, Palestrante e Conferencista, ministra estudos sobre seitas e heresias, autor da Apostila Bruxaria para crianças - Realidade ou fantasia?
Contato:
restauravida@uol.com.br

É BÍBLICO O SALÁRIO PASTORAL? - AUGUSTUS NICODEMUS


domingo, 4 de junho de 2017

Seu culto é racional ou irracional?

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1)

O termo ‘racional’ remete a raciocínio. Parece bastante óbvio. Assim como também, por associação, se entende que somente os seres humanos podem apresentar tal culto, visto que somente eles possuem raciocínio. Os anjos também possuem raciocínio, porém, por natureza não possuem corpo, visto que são espíritos (Hebreus 1:14). Paulo está falando aqui exclusivamente à igreja.
O vocábulo correspondente na versão original o grego “logikên latreian”, ou seja, ‘culto racional’, também pode ser entendido, sem prejuízo, como ‘culto lógico’. De fato, há lógica na racionalidade e vice-versa. Quem acha que essas coisas trazem prejuízo à fé, precisa rever seus conceitos.
O que Paulo está querendo dizer à igreja de Cristo?
Por suas colocações vemos que há uma preocupação do apóstolo em mostrar aos irmãos a necessidade de que se realmente entenda a natureza de tudo isso, no caso, a igreja.
Por que estou aqui? Quem me trouxe aqui? O que vim fazer aqui? O que estão me ensinando é verdade? São questionamento que todos os crentes deveriam se fazer até que encontrassem respostas racionais para todos eles.
O contrário de culto racional é culto irracional. Ou seja, algo que é feito instintivamente, sem critérios ou razões que justifiquem os procedimentos adotados. Em um culto assim é praticamente impossível se seguir o que está escrito: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (I Coríntios 14:40) . É impossível que haja qualquer um dos dois componentes pedidos sem que se entenda a natureza de cada um. E é preciso racionalidade para que isso aconteça. Por isso Deus nos fez diferentes das demais criaturas, ou seja, nos criou à sua imagem e semelhança: para que o adorássemos em espírito e em verdade, conscientes de nosso ato e de nossa missão de adoradores.
O reino de Deus é um reino de decência e ordem. Não há espaço para improvisos de última hora. A construção da arca e do tabernáculo comprovam a mensagem de organização que Deus quer nos ensinar. Até na salvação haverá ordem (I Coríntios 15:23).
Esse é o padrão que deve ser perseguido pela igreja de Cristo. Deus se agrada de uma obra organizada.
Em dias atuais podemos identificar como grande adversário desse padrão, o excesso de emocionalismo que tem se alastrado no meio cristão. A busca incessante pelo êxtase e pela experiência sobrenatural extrabíblica, a incorporação de ‘anexos’ doutrinários à Palavra de Deus, como se esta não fosse suficiente e os modismos importados recheados de técnicas mirabolantes de quebra de maldições e encontros obscuros são os componentes deste fim de séc. XX e início de séc. XXI. O que não é uma surpresa, Paulo já alertava que essas coisas fatalmente aconteceriam (I Timóteo 4:1).
Nesse caldeirão doutrinário sem consistência – já que não se sustentam biblicamente – as pessoas estão se dirigindo às igrejas sem saber exatamente o que vão fazer por sua espiritualidade. Vão dançar, cantar, aplaudir, gritar, enfim, sem entrar no mérito dessas questões, quase sempre falta o elemento principal: a Palavra de Deus. Entram e saem alegres e exaustas. O problema é: entenderam a mensagem? A palavra que foi pregada edificou suas vidas? Deus falou com elas através de seu evangelho? Se à maioria dessas perguntas as respostas forem algo como “acho que sim”, algo está fora do lugar.
Cultos de estudo são sempre vistos como ‘enfadonhos’ e ‘entendiantes’. Já pensou, passar quase uma hora apenas consultando referências na Bíblia? Que chato, não? Agora observe Neemias 8:3 “E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da Lei.” Estudo bíblico das seis da manhã até o meio-dia. Após isso, inclinaram-se, e adoraram o Senhor com o rosto em terra. Que lindo, não?
Uma proposta dessas nos dias de hoje seria impensável. Mas se o trabalho for uma celebração com um nome da moda, aí somente um dia inteiro é pouco.
A questão é que não há culto racional sem o entendimento da Palavra. Os ‘avivalistas’ de plantão trocam a bíblia por apostilas preparadas especialmente para direcionar as pessoas para a conclusão que lhes interessa. Seguem o exemplo das testemunhas de Jeová. Alguém já viu um deles evangelizando com uma bíblia em punho? Não, só vão às ruas com exemplares de ‘sentinela’ e ‘despertai’ ou, quando muito, com seus livretos particulares.
Por isso Paulo fala em ‘sacrifício vivo’. Ou seja, sacrifício da vontade da carne para fazer a vontade de Deus. E isso requer dedicação à sua Palavra e não somente àquilo que dá prazer, como por exemplo, ir para um retiro. Requer decência e ordem. Compromisso e organização.

Autor: Missionário Neto Curvina

O QUE É IGREJA INVISÍVEL? - ALEXANDRE LUSTOSA


sábado, 3 de junho de 2017

O QUE A BÍBLIA NOS FALA SOBRE JUSTICEIROS E AUTODEFESA? - AUGUSTUS NICODEMUS


Quebra de maldições Hereditárias?


Reconheço que existe uma maldição na vida de alguns crentes que devemos quebrar. E esta maldição é a “quebra de maldições hereditárias”, propriamente dita. Algo que está impregnado em muitas igrejas pelo Brasil e pelo mundo afora.

Para abordar este tema, gostaria de colocar um pouco de minha vida para justificar que eu vivi essa realidade no passado. Portanto, conheço bem os parâmetros colocados pelos defensores de tal prática.

Eu me converti em uma igreja onde é praticada a quebra de maldições hereditárias, fui ensinado com base nessa doutrina e durante alguns anos também preguei a mesma para muitas pessoas, até mesmo ministrei cultos de quebra de maldições hereditárias (para a minha vergonha).

Mas, na época, eu sempre questionei sobre a autenticidade dessa doutrina, pois apesar de ter aprendido em minha igreja (na época) sobre a necessidade de se quebrar maldições hereditárias e também ministrar sobre isto, sempre quando me deparei com algumas passagens bíblicas eu ficava com muita dúvida. A Bíblia diz em II Co 13:8 que “nada podemos contra a verdade se não pela verdade”. Portanto, não podemos ir contra a Bíblia jamais. Ela é a nossa única regra de fé e conduta. E a Bíblia estava me confrontando...

Um exemplo de passagem confrontadora está em Romanos 14:12, onde diz: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus”. Como poderia alguém fazer quebra de maldições de antepassados se cada um de nós prestará contas de si mesmo á Deus?

Outra passagem que sempre me deixava preocupado era Romanos 8:1, diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” Como posso ter alguma condenação de maldição se estou em Cristo?

Mais uma passagem, 2 Co 5:17: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Se estamos em Cristo e tudo se fez novo, as coisas antigas já passaram, como poderei ter maldições sobre a minha vida?

E o que dizer desta passagem: E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando na Cruz. Cl 2:13-14

Diante destas e outras passagens que veremos a seguir, levou-me a buscar um aprofundamento teológico sobre este assunto. O conteúdo do estudo e a conclusão que eu cheguei na época, você verá a seguir.

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O EVANGELHO DA MALDIÇÃO

Uma das distorções doutrinárias mais difundidas entre o povo de Deus ultimamente é o ensino das “maldições hereditárias”, conhecido também como “maldição de família ou “pecado de geração”. Estes conceitos circulam bastante através da televisão, rádio, literatura e seminários nas igrejas. Muitos líderes, ministérios e igrejas, antes sólidos e confiáveis, acabaram sucumbindo a mais esse ensino controvertido e importado dos Estados Unidos.

Os pregadores da maldição afirmam que se alguém tem algum problema relacionado com alcoolismo, pornografia, de­pressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete, câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um descendente. A pessoa deve então orar a Deus a fim de que lhe seja revelado qual é a geração no passado que o está afetando. Uma vez que se saiba qual, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração revelada e o problema estará resolvido, isto é, estará desfeita a maldição.

Marilyn Hickey, autora norte-americana e que já esteve várias vezes no Brasil em conferências da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), promove constantemente este ensino. Note suas palavras:

Se você ou algum de seus ancestrais deu lugar ao diabo, sua família poderá estar sob a “Maldição Hereditária”, e esta se transmitirá a seus filhos. Não permita que sua descendência seja atingi­da pelo diabo através das maldições de geração. Os pecados dos pais podem passar de uma a outra geração, e assim consecutiva­mente. Há na sua família casos de câncer, pobreza, alcoolismo, alergia, doenças do coração, perturbações mentais e emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério’? Estas são algumas das características que fazem parte da maldição hereditária nas famílias. Contudo, elas podem ser quebradas!

Um dos textos bíblicos mais usados pelos pregadores da maldição hereditária para defender este ensino é Êxodo 20:4-6: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.

É preciso que se leve em consideração o assunto do texto aqui citado. De que trata, afinal, tal passagem? Alcoolismo, pornografia, depressão, ou problemas do gênero? É óbvio que não. O texto fala de idolatria e não oferece qualquer base para alguém afirmar que herdamos maldições espirituais de nossos antepassados em qualquer área das dificuldades humanas.

A narrativa do Antigo Testamento nos informa que sempre que a nação de Israel esteve num relacionamento de amor com Deus, ela não podia ser amaldiçoada. Vemos a prova disso em Números 23:7, 8, quando Balaque pediu a Balaão que amaldiçoasse a Israel. A resposta de Balaão aparece no versículo 23: “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”. Por outro lado, sempre que a nação quebrou a aliança de amor com Deus, ela ficou exposta a maldição, calamidades e cativeiro.

É verdade que os filhos que repetem os pecados de seus pais têm toda a possibilidade de colher o que seus pais colheram. Os pais que vivem no alcoolismo têm grande possibilidade de ter filhos alcoólatras. Os que vivem blasfemando, ou na imoralidade e vícios, estão estabelecendo um padrão de comportamento que, com grande probabilidade, será seguido por seus filhos, pois “aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Isso poderá suceder até que uma geração se arrependa, volte-se para Deus e entre num relacionamento de amor com ele através de Jesus Cristo. Cessou aí toda a maldição. Não deve ser esquecido também que o autor da maldição ou punição é Deus e que ela é a manifestação da sua ira. Note que, no final do versículo cinco do capítulo vinte de Êxodo, a Palavra de Deus declara que a maldição viria apenas sobre aqueles que aborrecem a Deus, algo que não se passa com o cristão.

A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel:

“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:1-4). Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes dos filhos criaram carie.

O capítulo 18 de Ezequiel dá a entender que havia se tornado um costume em Israel colocar a culpa dos fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso faz lembrar o que aconteceu no jardim do Éden, quando, por ocasião da Queda, o homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus. Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que enfrentar suas tentações.

O ensino da maldição de família mais escraviza do que liberta. Até crentes que há vários anos viviam alegres, evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as dificuldades e lutas pelas quais estão passando sejam de fato reflexo de pecados ou do comportamento dos seus ancestrais. Não faz muito tempo, numa grande igreja pentecostal, um diácono, que havia participado de um desses seminários para quebra de maldições hereditárias, me procurou para aconselhamento. Tal irmão encontrava-se confuso e deprimido com as informações que recebera e queria saber o que a Bíblia tinha a dizer sobre tudo isso. Depois de uns dez minutos de conversa, ele respirou aliviado. Temos encontrado e ajudado a muitos outros em situações semelhantes pelos lugares por onde passamos, em diferentes partes do Brasil.

Ora, todo cristão é tentado, de uma forma ou de outra, uns mais, outros menos. Se um cristão enfrenta problemas em relação à pornografia, ao alcoolismo, ao adultério, à depressão ou a qualquer outro aspecto ligado às tentações, os métodos para vencer tais lutas devem ser bíblicos. O caminho para a vitória tem muito mais a ver com a doutrina da santificação, com o cultivo da vida espiritual através da oração, do jejum, da comunhão saudável numa determinada parte do Corpo de Cristo e do contato constante com a Palavra de Deus. O ensino da quebra de maldições hereditárias aparece como um atalho mágico e ilusório para substituir a doutrina da santificação, que é um processo indispensável a ser desenvolvido pelo Espírito Santo na vida do cristão, exigindo dele autodisciplina e perseverança na fé.


DOENÇA OU MALDIÇÃO?

Um outro aspecto incorreto desse ensino é confundir as doenças transmitidas por herança genética com maldições hereditárias espirituais. Isto pode ser observado nas declarações de Marilyn Híckey:

Será que você já observou uma família na qual todos os membros usam óculos? Desde o pai e a mãe até a criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os do tipo de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e precisam ser libertas.

Não se pode construir uma doutrina em cima de uma observação, experiência ou somente porque uma família toda usa óculos! Existem muitas famílias em que apenas um ou outro membro usa óculos. O que aconteceu? Por que só alguns herdam a maldição e outros não? E se as doenças são maldições transmitidas de pais para filhos através dos genes (geneticamente), por que os pregadores dessa doutrina não quebram, por exemplo, a maldição da calvície, transmitida geneticamente? Até hoje não há notícia de que alguém tenha feito isso.

O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. Quando perguntado sobre o cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”, ele respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9:2-3). Alguns usam este texto para afirmar que os discípulos acreditavam na maldição de família, procurando dar assim legitimidade a tal ensino. É preciso lembrar que os discípulos nem sempre estiveram certos no período de treinamento que passaram juntos a Jesus. Certa vez, em alto-mar, quando Cristo se aproximava, eles pensaram ser ele um fantasma (Mt 14:26). Felizmente, os discípulos estavam errados em suas conclusões, pois eram humanos, sujeitos a erros. É óbvio que não erraram quando falaram e escreveram inspirados pelo Espírito Santo. Quanto ao cego de nascença, Jesus destruiu qualquer superstição ou crença que os discípulos pudessem ter de que a cegueira fora provocada pelos pecados de seus antepassados, e o próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina.

Tal ensino não encontrou espaço também nos escritos do apóstolo Paulo. Ao contrário, quando escreveu aos coríntios pela segunda vez, declarou com muita certeza: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17). Aos efésios, ele afirma: “Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Onde existe espaço para maldições na vida de um cristão diante de uma declaração como esta?

Paulo não se deixou prender ao passado. Quando escreveu aos crentes de Filipos, declarou: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp.3:13, 14).

É importante observar a sugestão do apóstolo Paulo a Timóteo, quando lhe escreveu a primeira carta: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1 Tm 5:23). Paulo nunca insinuou que a enfermidade de Timóteo fosse uma maldição de seus antepassados, pois sabia que Timóteo vivia numa natureza afetada pela desobediência dos primeiros país (Adão e Eva). Apesar de o Reino de Deus estar entre nós, ele ainda não chegou à sua plenitude, pois até a criação geme, aguardando ser redimida do cativeiro da corrupção (Rm 8: 19-23). Paulo apenas sugeriu que Timóteo tomasse um pouco de vinho como um remédio para suas freqüentes enfermidades estomacais e não que fizesse a quebra das maldições hereditárias.


A CONVERSÃO É A SOLUÇÃO

Ensinar que um cristão tem que romper com maldições ou pactos dos antepassados pedindo perdão por eles é minimizar o poder de Deus na conversão. Isso está mais para o espiritismo ou mormonismo (com sua doutrina anti-bíblica do batismo pelos mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita ousadia: “Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). O advérbio “totalmente” (panteles, no grego) tem o sentido de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em prestações, mas de uma vez por todas.

Marilyn Híckey chega a afirmar que: “Você pode decidir quanto ao destino exato da sua linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão para o diabo”. Nada poderia estar mais longe da verdade. Quantos filhos há que hoje vivem uma vida cristã exemplar, são cheios do Espírito Santo, enquanto seus pais permanecem alheios ao Evangelho, rejeitando constantemente a palavra de salvação e até tentando dificultar-lhes a vida espiritual! Comigo também foi assim. Ai de mim se fosse esperar meu pai decidir sobre o meu futuro espiritual. Não sei onde estaria hoje.

É claro que os pais têm grande influência na formação espiritual dos filhos, mas o milagre da salvação é obra de Deus, e é pela graça que somos salvos (Ef 2:8, 9). É o Espírito Santo, o Consolador, quem convence o coração do pecado, da justiça e do juízo, como o próprio Senhor Jesus disse (Jo 16:7, 8). Paulo relatou aos gálatas que foi Deus quem lhe revelou seu Filho (Gl 1:15, 16). Assim, a salvação é uma revelação de Jesus Cristo em nossos corações, e não algo decidido somente pelos pais.

Observe o que aconteceu com os filhos de Samuel, um profeta de Deus e um homem íntegro, como pode ser observado em 1 Samuel 3:19 e 12:3. Apesar da integridade do pai, a Bíblia diz que seus filhos não andaram pelos caminhos dele:

“antes se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos e perverteram o direito” (1 Sm 8:3).

Veja os reis de Israel e Judá. A narrativa do Antigo Testamento revela que muitos deles foram ímpios e tiveram filhos piedosos, enquanto outros foram piedosos e tiveram filhos ímpios. Eis alguns exemplos: Abias foi mau (1 Rs 15:3), mas seu filho Asa “fez o que era reto perante o SENHOR” (1 Rs 15:11). Jotão “fez o que era reto perante o SENHOR”(2 Rs.15:34), porém Acaz, seu filho, “não fez o que era reto perante o SENHOR” (2 Rs 16:2). Jeosafá agradou a Deus (2 Cr 17:1-4), enquanto Jeorão, seu filho, “fez o que era mau perante o SENHOR” (2 Cr 2 1:6). Assim, a seqüência de bondade ou maldade que deveria suceder na linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que ensinam os pregadores da maldição de família simplesmente não aconteceu. A esses exemplos certamente não se poderia aplicar o provérbio: “Tal pai... tal filho”.

Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo escreveu aos irmãos de Corinto, na sua primeira carta, uma palavra tremendamente elucidativa quanto a esta questão: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:9-11; leia também Gl.5:17-21).

Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze:

“Mas haveis quebrado as maldições hereditárias, mas haveis pedido perdão pelos pecados dos antepassados” ou algo similar. Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo afirma que aqueles que estiveram presos nos pecados haviam sido lavados, haviam sido santificados e justificados, sem qualquer necessidade de quebrar maldições dos antepassados.

Cabem aqui algumas perguntas: Qual é a maior das maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior das bênçãos? Certamente é o estar em Cristo. Como se elimina a maior das maldições? Introduzindo a maior das bênçãos.

Os pregadores da maldição hereditária não deveriam pedir perdão pelos pecados da décima, nona, oitava ou de qualquer outra geração, mas deveriam, sim, pedir perdão pelos pecados de Adão e Eva, pois se houve brecha, foi ali, na queda do jardim do Éden, onde as maldições tiveram início. Ali está a raiz do problema. Isso, sim, seria um trabalho perfeito e completo. O leitor já imaginou se funcionasse? De repente, ninguém mais precisaria trabalhar para ganhar o pão, a mulher não sofreria mais ao dar à luz e os espinhos desapareceriam da Terra. É claro que não funciona, pois tal ensino não tem base na Palavra de Deus.


TEXTOS MAL INTERPRETADOS

Espíritos Familiares

Para defender o ensino da maldição hereditária, seus pregadores usam a expressão “espíritos familiares”, tradução de Levítico 19:31 e de outras passagens na Bíblia em inglês do Rei Tiago (King James Version). Observe o comentário de Marilyn Hickey quanto a isso:

O que são “espíritos familiares”? São maus espíritos decaídos que se tornaram familiares numa família. Eles a seguem, com suas fraquezas — pecado físico, mental, emocional — por todo caminho, atacando e tentando cada membro seu naqueles aspectos, pois estão cientes de suas inclinações. “Marilyn, como é que você sabe disso?” Porque o Antigo Testamento fala acerca dos “espíritos familiares” (Versão King James).

Usando o mesmo argumento, um certo autor comenta:

Nas traduções em português, usamos as palavras necromantes, adivinhadores e feiticeiros. Mas em inglês usa-se o termo espíritos “familiares” e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração. Há um acompanhamento, por parte destes demônios, sobre as famílias. E eles transmitem os mesmos vícios, comportamentos e atitudes de que temos falado.

Defender um ensino controvertido com base na tradução de uma Bíblia em inglês (Versão do Rei Tiago) é algo inaceitável à luz da hermenêutica e da exegese bíblica. É preciso ter em mente que a Bíblia Sagrada não foi escrita em inglês. Para se entender o texto bíblico, é necessário que se faça a tradução e interpretação com base na língua em que ele foi escrito. No caso do Antigo Testamento, o hebraico, e não o inglês. Ao afirmar: “Mas em inglês se usa o termo espíritos familiares, e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração”, o autor demonstra exatamente o contrário: não ter base bíblica para tal ensino.

Robert L.Alden, Ph.D., professor do Velho Testamento no Seminário Teológico Batista Conservador de Denver, Estado do Cobrado, nos Estados Unidos, esclarece:

A palavra ‘ob (original hebraico) aparentemente se refere àqueles que consultavam os espíritos, pois 1 Samuel 28 descreve alguém assim em ação. A famosa “feiticeira” de Endor é uma ‘ob. Ao povo de Deus foi ordenado ficar longe de tais ocultistas (Levítico 19:31). A punição por se envolver com tais “médiuns” era morte por apedrejamento (Levítico 20:27). Naturalmente ‘ob é incluída na lista de abominações semelhantes em Deuteronômio 18:10,11. Todas essas ocupações têm a ver com o ocultismo. Isaías desconsidera estes “necromantes” e sugere, pela sua escolha de palavras, que os sons dos espíritos assim emitidos não são nada mais do que ventriloquismo: “os necromantes e os adivinhos que chilreiam e murmuram” (Isaías 8:19).

É importante observar ainda que a Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) emprega o termo eggastrímithoi (ventríloquo) para traduzir a palavra ‘ob de Levítico 19:31. A Bíblia informa em 1 Samuel 28:3 que Saul havia banido de Israel os adivinhos e os encantadores e não os espíritos familiares. Assim, a palavra hebraica ‘ob significa o “vaso” ou instrumento dos espíritos, portanto o médium ou necromante, conforme aparece na maioria das traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo base para quebra de maldições hereditárias na vida do cristão.

A crença de que a violência é provocada por espíritos familiares também não tem base bíblica. O apóstolo Paulo foi um homem violento. A Bíblia diz que “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8:3). O apóstolo João, antes de se tornar o discípulo do amor, não hesitava em dar vazão à sua ira. Certa vez ele chegou a desejar que caísse fogo do céu para consumir os samaritanos que se recusaram a receber Jesus (Lc 9:52-54). Como abandonou Paulo sua violência e João deixou de ter um espírito ou temperamento vingativo? Sem dúvida, através da conversão e do viver com Cristo foi que eles foram transformados e libertos, e não através da quebra de maldição de família, algo que nunca fez parte de seus escritos.


ARVORE GENEALÓGICA

Embora haja quem sugira às pessoas para que desenhem árvores genealógicas a fim de facilitar a quebra das maldições, tal prática não encontra apoio na Bíblia. É verdade que encontramos genealogias nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, as quais tinham a intenção de apresentar a linhagem de Jesus como o Messias de Israel. Não há, depois disso, em todo o Novo Testamento, preocupação com tal ensino. Ao contrário, o apóstolo Paulo até recomendou a Timóteo e a Tito que não se envolvessem com esse assunto (1 Tm 1:4 e Tt 3:9). Os mórmons, sim, na tentativa de resolver os problemas espirituais de seus falecidos através do batismo pelos mortos (uma prática antibíblíca), gastam muito tempo e dinheiro com genealogias, contrariando assim as Escrituras Sagradas.

Há os que dizem que devemos pedir perdão pelos pecados de P. C. Farias e de políticos acusados como corruptos. Outros estão sugerindo que, ao se encontrar uma pessoa negra na rua, deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam que os carros roubados no Brasil e levados ao Paraguai são uma maneira de Deus fazer os brasileiros pagarem aos paraguaios pelo mal que lhes fizeram em guerras passadas. Que absurdo!

Os que isto sugerem gostam de citar as orações de Esdras (capítulo nove), Neemias (capítulo nove) e Daniel (capítulo nove), em que eles fizeram confissão a Deus, citando os pecados de seus antepassados. Sabemos que as bênçãos do antigo pacto eram condicionadas à obediência do povo de Israel. Quando desobedecia, as maldições de Deus vinham sobre ele. Esdras, Neemias e Daniel de fato reconheceram o pecado de seus antepassados, mas pediram perdão pelos pecados do presente, da geração atual. Embora seja possível alguém sofrer as conseqüências dos pecados de terceiros, o mesmo não acontece com a culpa. A Palavra de Deus não culpa ninguém pelos pecados dos outros. A Bíblia em nenhum lugar ensina a interceder por quem já morreu, uma vez que após a morte segue-se o juízo, não oração ou pedido de perdão pelos mortos (Hb 9:27).

É preciso lembrar ainda que, à luz da Bíblia, ninguém pode se arrepender por outra pessoa. O arrependimento é algo pessoal, que se faz diante de Deus. A idéia de que “temos que até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados cometeram, e quebrar os pactos que fizeram”, contradiz a Palavra de Deus, que afirma:“Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).


PROVÉRBIOS 26:2

Eis aqui outro texto freqüentemente mal usado pelos pregadores da maldição de família. Allen P Ross comenta que era comum acreditar que as bênçãos e as maldições tinham existência objetiva — uma vez proferidas, produziam efeito. Ele acrescenta: “As Escrituras esclarecem que o poder de amaldiçoar e de abençoar depende do poder daquele que está por trás dele (por exemplo, Balaão não pôde amaldiçoar o que Deus havia abençoado; Nm 22:38 e 23:8). Este provérbio realça a correção da superstição. A Palavra do Senhor é poderosa porque é a Palavra do Senhor — ele a cumprirá”. Nota-se então que não existe base para se usar tal texto a fim de defender a transferência de maldições de geração em geração.


MALDIÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS

É o que ensina o livro Bênção e Maldição quando afirma:

A verdade é que há nomes próprios que estão carregados de maldição —já trazem prognóstico negativo (...) Por isso não convém dar aos nossos filhos nomes que tenham conotação negativa, que expressem derrota, tristeza, dureza: Maria das Dores, Mara (amargura), Dolores (dor e pesar), Adriana (deusa das trevas), Cláudio (coxo, aleijado), Piedade, Aparecida (sem origem, que não se sabe de onde veio).

Este é mais um ensino que vem acrescentar cargas desnecessárias sobre os crentes que passam a acreditar nele. Existem muitas pessoas hoje vivendo preocupadas devido ao nome que receberam ao nascer, algo sobre o que não tiveram controle e nem escolha. E, de novo, não há base bíblica para isso.

É verdade que há na Bíblia alguns nomes de pessoas que corresponderam às suas personalidades e às circunstâncias em que viveram. O próprio Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, que significa “pai de uma grande multidão”. (“A mudança de Abrão para Abraão teve por fim reforçar a raiz da segunda sílaba para dar maior ênfase à idéia de exaltação”, J. D. Davis, Dicionário da Bíblia, p. 11.) O nome de Jacó foi ligado à “usurpador”, e ele assim se comportou por um bom período de sua vida (ver estudo "falácia da maldição nos nomes") , O legislador de Israel recebeu o nome de Moisés por que foi salvo das águas. Contudo, não se pode criar uma regra baseada em tais exemplos pelas razões que veremos em seguida.

A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas ímpias com nomes de bons significados, enquanto outras são boas, mas com nomes de significados nada recomendáveis. Veja o caso de Abias, que quer dizer “Jeová é pai”, filho de Samuel, um homem de Deus. Apesar de ter um bom nome e um bom pai, a Bíblia diz que ele não andou nos caminhos de Samuel e se corrompeu (1 Sm 8:3).

Já Absalão quer dizer “pai da paz”. Embora tendo um nome tão pacífico, ele tentou usurpar o trono de seu pai Davi, teve uma vida turbulenta e morreu de forma trágica (2 Sm.3:3; 13-19).

Daniel e seus amigos tiveram os nomes mudados pelo rei de Babilônia (Dn 1:7). Mesmo depois de receberem nomes ligados a deuses pagãos, isso não impediu que desfrutassem da bênção de Deus e permanecessem firmes na fé em Jeová. Logo, pode-se notar que o nome não influiu em nada.

Judas quer dizer “louvor”, um significado muito piedoso, mas isso não impediu que ele traísse o Senhor (Mt 26:48,49). Por outro lado, um outro Judas foi fiel e deixou uma carta escrita no Novo Testamento.

Bar-Jesus é um nome fantástico, que quer dizer “filho de Jesus”. Apesar do nome, ele era um mágico, um falso profeta, e resistiu a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio Paulo (At 13). Apenas o nome não faz o homem. Se fizesse, as prisões no Brasil não estariam cheias de presidiários chamados de Abel, Moisés, Isaías, Daniel, Pedro, Lucas, Paulo e outros nomes bíblicos.

Há também homens e mulheres na Bíblia que serviram a Deus fielmente e foram vencedores na fé cristã, apesar dos nomes que tiveram com significados nada recomendáveis.

Apolo foi um homem de Deus, poderoso nas Escrituras (At 18:24-28), mas seu nome significa “destruidor”.

Hermes é um dos irmãos a quem Paulo envia saudações cristãs (Rm 16:14), porém seu nome é de um deus mitológico.

O interessante é que Paulo nunca instruiu esses irmãos para que fizessem oração de renúncia pelos nomes que possuíam, pois eles terão um novo nome no céu (Ap 2:17).

Alguns crentes até dão testemunho em público depois de pensar que foram bem-sucedidos ao amaldiçoar uma pessoa, uma empresa ou organização. Contam, por exemplo, que por não terem sido bem servidos num restaurante, o amaldiçoaram e o restaurante faliu. A Bíblia, porém, ensina que o cristão não deve amaldiçoar, mas, sim, abençoar. Ouçamos o conselho de Paulo: “Abençoai, e não amaldiçoeis” (Rm 12:14).

Alguns têm dito que a quebra das maldições hereditárias é bíblica, já que deu certo ou funcionou para um ou outro. O fato de ter dado certo não quer dizer que seja bíblica. Há muita coisa que funciona no espiritismo, na umbanda e na Ciência Cristã que ne m por isso é bíblica. Geralmente, as distorções no seio da Igreja são muitas vezes baseadas apenas nas experiências, no subjetivo. Ora, não importa quão maravilhosa tenha sido a experiência; se ela contradiz as Escrituras e não tem base na Palavra de Deus, deve ser rejeitada, prevalecendo somente a Bíblia Sagrada, única regra de fé e prática para o cristão.

Para maiores informações, veja o estudo: A falácia da maldição nos nomes



PODE UM CRISTÃO TER DEMÔNIOS?

Um dos temas mais polêmicos que a batalha espiritual tem gerado é se um cristão pode ter demônios. Muitos ministérios de libertação incluíram algum ritual para expulsar demônios de crentes em seus programas e isso tem acontecido em simpósios de batalha espiritual em muitas igrejas. Alguns teólogos também passaram, nos últimos anos, a aderir a tal posição e muitos deles reconhecem que o assunto é controvertido. De qualquer forma, a Bíblia Sagrada tem a palavra final sobre esta questão ou sobre qualquer outro assunto relacionado com a vida espiritual e o cristão. 

Merrill F. Unger, um autor lido e seguido por várias pessoas que hoje desenvolvem ministérios de libertação espiritual no Brasil, reconhece a dificuldade de se tratar do assunto, ao declarar: A verdade da questão é que as Escrituras em nenhum lugar declaram que um verdadeiro crente não pode ser invadido por Satanás ou seus demônios. Naturalmente, a doutrina deve sempre ter precedência sobre a experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer base para a interpretação bíblica. Apesar disso, se experiências consistentes chocam com uma interpretação, a única conclusão possível é de que há alguma coisa errada, ou com a própria experiência ou com a interpretação da Escritura que vai contra ela. Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Aquele que procura a verdade com sinceridade deve estar preparado para consertar sua interpretação a fim de traze-la em conformidade com os fatos como eles são.

Unger já ensinou e escreveu, no passado, que somente os incrédulos estão sujeitos a endemoninhamento ou possessão demoníaca. Mais tarde ele mudou de idéia, e diz por que:

Em Biblical Demonology (Demonologia Bíblica), publicado primeiramente em 1952, aposição tomada era de que somente os incrédulos são expostos ao endemoninhamento. Mas, através dos anos, várias cartas e relatórios de casos de invasão demoníaca de crentes têm chegado a mim de missionários em várias partes do mundo. Como resultado, em meu estudo sobre a explosão atual do ocultismo intitulado Demons in the World Today (Demônios no Mundo de Hoje), que apareceu em 1971, a confissão é feita livre­mente de que a posição tomada no Biblical Demonology (Demonologia Bíblica) “foi assim entendida, pois a Escritura não resolve claramente a questão”.

Há alguns problemas com as declarações de Unger. Primeiro, ele diz que a Bíblia não afirma com clareza que um cristão não pode ser invadido por demônios. Ora, se a Bíblia não diz isso com clareza (o que não é verdade), como pode alguém então afirmar e ensinar sobre aquilo que não está claro na Palavra de Deus? Seria o mesmo que tentar ensinar escrever sobre o sexo dos anjos quando a Bíblia nada fala a questão. Se a Bíblia não é clara sobre a possessão de crentes, como pode alguém desenvolver então, biblicamente, uma prática de expulsar demônios de crentes? Simplesmente impossível.

Pode-se perceber também que Unger, que no passado ensinava que crentes não podiam ficar possessos, depois mudou de posição. A mudança veio não pela avaliação bíblica, mas, como ele mesmo conta, através de cartas e relatórios de missionários baseados em experiências dos campos de missões. Mas Unger não está só ao basear a possessão de crentes em experiências e não na Bíblia. Veja a opinião de Bill Subbritzky sobre o assunto: “Pode um cristão ter demônios? A resposta é enfaticamente sim! Se você tem sido informado de que isso não acontece, continue lendo e deixe o Espírito Santo guiá-lo nesta questão. Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente incorreta”.

Uma autora no Brasil demonstra ter também opinião semelhante ao declarar:

Muitos defendem que, uma vez que o crente é habitação do Espírito (1 Coríntios 6:19), torna-se impossível um demônio habitar onde o Espírito habita (...) o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é possível (...) Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a manifestação de demônios em cristãos.

Certa líder na área da batalha espiritual segue a mesma linha desses autores e conclui:

Se partirmos do pressuposto de que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia usada. De acordo com dezenas de estudiosos do grego, daimonozomenai significa “ter demônios” e é melhor traduzido pela palavra “endemoninhado”, nunca possesso, pois no Novo Testamento não vemos o uso do termo (...) Endemoninhado tem um significado lato, indicando o estado da pessoa que tenha um demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele pode ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa.”(Neuza Etioka).

Dois outros autores norte-americanos, John e Paula Sanford, acrescentam também:

Há aqueles que crêem que o cristão cheio do Espírito Santo não pode ser ocupado pelo poder demoníaco. Temos descoberto que isto não é um fato histórico, ainda que a teologia diga que o Espírito Santo e os demônios não podem habitar a mesma área. E o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas de crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios do Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso acontece eu não posso explicar, mas tem sido para nós um fato incontestável de muitos anos de experiência exaustiva.’

Este é o segundo problema de Unger e é também o problema dos demais autores aqui mencionados: experiência, experiência, experiência. Na última citação, os autores até informam que nem sabem explicar como pode acontecer a expulsão de demônios de crentes, mas continuam levando tal prática adiante.


CRENTES NÃO FICAM POSSESSOS

Não creio na possessão demoníaca em crentes, pelas seguintes razões bíblicas:

1o - razão: o crente é santuário do Espírito Santo. “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Co 6:19, 20.)

O Espírito Santo não é um visitante esporádico na vida do crente. É morador definitivo, e não se ausenta de sua morada.

Paulo garante que não há possibilidade de convivência entre Cristo (Rm 8:9) e o maligno (Ef 2:2.) “Que harmonia entre Cristo e o maligno?” (2 Co 6:15.)

2o - razão: o Espírito Santo é zeloso pelo seu santuário. “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: Ë com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4:5.).

O Espírito Santo é a pessoa da trindade santa para a qual Jesus mais reivindicou o nosso cuidado na análise de fatos ou no evitar de palavras precipitadas. “Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.” (Mt 12:31, 32.)

Atribuir as obras de Jesus ao poder de Belzebu, o maioral dos demônios, já era pecado e blasfêmia contra o Espírito Santo, que estava sobre Jesus (Lc 4:18, 19), pois o Espírito Santo não pode ser veículo usado por Satanás. Diante de tal santidade e zelo será possível admitirmos que o Espírito Santo permitiria a entrada de força maligna em seu santuário? Louvado seja o seu nome porque ele não permite.

3o - razão: o crente é propriedade de Deus. É maravilhosa a declaração, de Paulo em Efésios 1:13, 14: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” No verso 14, os crentes são chamados de“propriedade de Deus”. O sublime de tudo isto é que o Espírito Santo é o “penhor” da nossa ressurreição futura, ou seja, a garantia de que não estamos órfãos (Jo 14:18) e de que seremos transformados na ressurreição (1 Co 15:52.). A presença do Espírito Santo em nós é a garantia de que somos propriedade de Deus.

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2:9.) 

A propriedade é exclusiva. Essa “propriedade” não será loteada e vendida ao diabo.

4o - razão: Jesus é o valente que tomou posse da propriedade.

“Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos. (Lc 11:21, 22.)”.

O Senhor Jesus veio ao mundo “para destruir as obras do diabo.” (1 Jo 3:8.)

Jesus me fascinou pela sua valentia e coragem diante da cruz. Essa valentia é a mesma no que diz respeito a guardar os seus filhos das investidas do diabo na tentativa de possuí-los.

Jesus é o Senhor absoluto de sua casa (1 Pe 2:5) e de seu tabernáculo (2 Co 5:1), que são os nossos corpos.

5o - razão: O Espírito Santo intercede pelos crentes em suas fraquezas.

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” (Rm 8:26.)

É porque o Espírito Santo perscruta até mesmo as profundezas de Deus que Ele pode interceder por nós de acordo com a vontade perfeita do profundo e humanamente insondável coração de Deus. “Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.” (1 Co 2:11.)

Davi invocava o Espírito Santo para ajudá-lo a viver na perfeita vontade de Deus.“Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano”.(Sl. 143:10.)!

O cristão não é um super-homem, mas é superprotegido graças à intercessão do Espírito Santo nas horas de maior fraqueza e necessidade.

6ª - razão: O imutável amor de Cristo garante a segurança.

“Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8:37-39.)

O que nos dá segurança é o fato de o amor ser o de Cristo Jesus. Seu amor é sublime e leal, “é forte como a morte” (Ct 8:6) e a sua fidelidade está para além da fidelidade do crente, porque “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”. (2 Tm 2:13.)

“Bem-aventurado o homem que confia no amor de Cristo por sua vida”. A promessa para ele é: “O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol, nem de noite a lua, O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.”(Sl 121:5-7.)

O crente jamais será esquecido pelo amado Senhor Jesus, pois o seu nome está nas palmas de Sua mão. “Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante mim.”(Is 49:15, 16.)

O crente pode reivindicar todas as promessas da Palavra de Deus, “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio” (2 Co 1:20.)

Um filho de Deus jamais ficará possesso por espíritos malignos. Esta é a confiança.

Fonte: [ CACP ]  

Esta é a minha conclusão e afirmação teológica: Não existem maldições hereditárias, muito menos um crente pode ficar possesso! A afirmativa contrária a esta conclusão é herética, maligna e carece de respaldo bíblico. Portanto, fujam de pessoas que ensinam essas heresias destrutivas e aprisionadoras. Se você, de fato, estiver em Cristo, o maligno não pode lhe tocar (1 Jo 5.18)!

Soli Deo Gloria!

Ruy Marinho