terça-feira, 14 de maio de 2019

Como lidar com sentimentos de culpa pelo pecado?


Ultimamente vivi um período difícil no que diz respeito a sentimentos de culpa. Isso exigiu de mim uma busca por respostas nas Escrituras. Tais respostas trouxeram conforto ao meu coração. Assim, resolvi redigir este artigo a fim de compartilhar aquilo que aprendi para que outras pessoas também encontrem na graça alívio para a consciência pesada. Vou discutir alguns versículos e algumas doutrinas que são de grande relevância ao se lidar com sentimentos de culpa.

A TRISTEZA PELO PECADO

É possível perceber entre os cristãos dois exageros diante do pecado. Alguns cristãos se acostumaram com seus pecados, não tem mais esperança de vencê-los e se entregaram a eles. Já não sentem repugnância, nem lamentam seus erros. Cair e recair em pecados tornou-se algo que não os afeta, ou que não os afeta tanto assim. O cristão verdadeiro, por outro lado, entristece-se profundamente mesmo diante do menor pecado cometido e se mostra resoluto em abandoná-lo. Neste ponto é importante olhar para um versículo:

Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia.” - Provérbios 28.13

O arrependimento verdadeiro é evidenciado por uma firme resolução de não pecar novamente[1]. O cristão não está meramente decidido a pecar menos, nem a esperar que o tempo passe ou que alguma coisa aconteça para que ele pare de pecar. O cristão está decidido a não pecar mais. O verbo para “abandonar” no hebraico é “azab” e tem os significados de “afastar”, “renunciar”, “recusar”, “remover” e “deixar para trás”. [2] Isso não significa que o arrependimento verdadeiro só ocorre quando a pessoa não volta mais a cometer o mesmo pecado, mas sim que só há arrependimento verdadeiro quando a pessoa está decidida a não mais cometer o pecado do qual está arrependida.

No outro extremo estão os cristãos que tem clareza da culpa pelos seus pecados, mas por outro lado, o perdão lhes parece distante e obscuro. Essa tristeza não os leva a abandonar seus pecados, na verdade geralmente tem o efeito contrário. A graça de Deus é tão obscurecida pela tristeza que a pessoa não encontra esperanças de que seu pecado possa ser removido e abandonado. Assim descreveu Spurgeon essa condição:

“A Graça está ali, é verdade, mas o Medo cega a melhor natureza, e fixa seu olhar somente no corpo dessa morte. Olhar para a velha natureza raramente é uma operação prazerosa, especialmente se esquecermos que ela foi crucificada com Cristo. Eu suponho que, se qualquer um de nós pudesse ver o seu próprio coração da maneira como ele realmente é, ele enlouqueceria.” – Charles Spurgeon [3]

As certezas bíblicas sobre o perdão de Deus devem sujeitar nossos sentimentos. Duas passagens bíblicas são de relevância neste ponto:

A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte.” - 2 Coríntios 7.9

No seio da igreja de Corinto havia cristãos cometendo graves pecados. Até mesmo um irmão estava envolvido em um caso incestuoso e precisou ser disciplinado (1 Coríntios 5.1-13). Quando demonstrou genuíno arrependimento, Paulo orientou que a igreja deveria acolhê-lo “para que ele não seja dominado por excessiva tristeza.” (2 Coríntios 2.7). As duras exortações de Paulo produziram tristeza nos coríntios (v.8) e essa tristeza serviu para o propósito de gerar arrependimento (v.9). Esse arrependimento, por sua vez, produziu zelo (v.10). 

Esse objetivo da tristeza pelo pecado também pode ser observado em Salmos 32. Enquanto o pecado não é confessado, o coração do cristão se enche de tristeza (vv. 3,4), essa tristeza leva ao arrependimento e à confissão, de modo que a culpa do pecado é perdoada (v.5), isso, por sua vez, produz alegria (vv.1,2). A ordem que aparece nessas passagens é: (i) tristeza pelo pecado, (ii) confissão e arrependimento e (iii) alegria pelo perdão e zelosa dedicação à Deus. Assim, o sentimento de tristeza cumpre uma função específica – levar ao arrependimento e à confissão do pecado cometido. Após isso não há mais motivo para tristeza, mas sim para alegria. Paulo fala de outro tipo de tristeza diante do pecado, “a tristeza segundo o mundo” que produz remorso e morte. Essa é a tristeza que conduz à falta de fé no perdão de Deus [4]. Os cristãos devem lutar contra sentimentos de culpa e tristeza dessa natureza.

O ERRO DA AUTOPUNIÇÃO

É comum o ódio pelo nosso pecado se converter em ódio a nós mesmos. A coisa mais difícil é aceitar que Deus graciosamente perdoa os nossos pecados. Sentimos uma necessidade de nos punir pelo que fizemos e fazemos isso nos ferindo com uma tristeza excessiva e desnecessária. Por que fazemos isso? O inciso II do capítulo VII daConfissão de Fé de Westminster pode esclarecer isso:

“O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal.” [5]

Este é o estado natural do homem – estar sob as exigências de um pacto de obras. Todo homem não regenerado está debaixo do pacto de obras e não pode cumpri-lo. Isso certamente é desesperador. Naturalmente os homens sabem que precisam ser severamente punidos. A situação dos cristãos, porém, é outra. Deus estabeleceu com eles um pacto de graça (CFW VII.III), ainda assim os cristãos naturalmente acabam agindo como se ainda estivessem sob um pacto de obras, pois esse é o estado original do homem. É importante dar uma olhada em outro versículo agora:

Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus.” - 2 Coríntios 5.21

Jesus se tornou pecado por nós mesmo sem ter pecado. Isso significa que ele se tornou pecado não ontologicamente, mas sim por imputação, assim como nós nos tornamos justos, não ontologicamente (de fato, continuamos pecadores), mas sim por imputação. Uma ilustração pode esclarecer essa questão: 

Imaginemos uma escola em que os alunos para serem aprovados precisam ter a nota máxima. Pensemos em dois alunos: o aluno A foi tão mal na prova que possui uma nota negativa. O aluno B foi perfeito e possui a nota máxima ( +10). Quando o professor vai declarar quem será e quem não será aprovado, o aluno B pede ao professor que a nota do aluno A seja imputada a ele e que a nota dele seja imputada ao aluno A. Assim, o aluno A é declarado aprovado como se tivesse a nota máxima, enquanto o aluno B recebe a reprovação que deveria ser recebida pelo aluno A por sua nota negativa. É isso que Paulo está dizendo, a nossa nota negativa (nossos pecados) foram imputados a Cristo, o qual pagou a penalidade que nos cabia, enquanto a justiça perfeita de Cristo foi atribuída a nós e, por isso, Deus olha para nós como se nunca tivéssemos cometido um pecado sequer.

Temos duas doutrinas importantes nesse verso. A primeira é a doutrina da expiação (“Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado”). Cristo sofreu vicariamente (em nosso lugar) toda ira e punição pelos nossos pecados e assim proveu o pagamento que satisfez a justiça de Deus[6]. Dessa forma, nem mesmo Deus nos pune por nossos pecados, pois nossos pecados já foram punidos em Cristo. Por isso, a autopunição é uma afronta à suficiência do sacrifício de Cristo: “Permitir-nos a auto depreciação, e o sentimento como que de pagar uma penitência para Deus pelo pecado, é uma tortura triste e errônea. É falsa, é uma opressão ímpia”[7]. A correção divina deve ser vista como uma disciplina amorosa e paternal na vida dos crentes, nunca como uma punição por seus pecados (Hebreus 12.7)[8].

A outra doutrina presente no texto é a da justificação (“para que nele nos tornássemos justiça de Deus.”). Somos objetivamente declarados justos com base na obediência perfeita de Cristo e nos apropriamos subjetivamente da justificação através da fé: “nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé” (Confissão de Fé de Augsburgo, artigo 4)[9]. Diante do tribunal de Deus somos vistos como se nunca tivéssemos cometido um só pecado sequer [10]. Isso deve ser suficiente para banir o peso de qualquer culpa de nossos ombros. Não há consciência tão pesada que não possa ser aliviada por Cristo.

O SENTIMENTO DE HIPOCRISIA

Como já vimos, o verdadeiro arrependimento produz zelo, dedicação e alegria. (Salmos 32.1-2; 2 Coríntios 7.10). Tristeza, remorso e culpa excessivos podem nos levar a um sentimento de hipocrisia que nos faça afastar da igreja, negligenciar as orações e nossos deveres espirituais. Podemos nos sentir muito impuros para orar ou fazer algo para Deus. Outras vezes queremos nos esconder de todos pelo sentimento de vergonha e hipocrisia. Um entendimento bíblico do que é hipocrisia pode corrigir isso. Vamos dar uma olhada em outro texto das Escrituras:

“...então você, que ensina os outros, não ensina a si mesmo” - Romanos 2.21

Paulo fala da hipocrisia dos judeus. Eles se orgulhavam de ser o povo da lei (v.17), consideravam-se superiores (v.18) e instrutores iluminados (v.19, 20). No entanto, racionalizavam seus pecados. Diziam-se contra o furto, mas achavam que a desonestidade nas relações comerciais com os gentios não era pecado (v.21). Pregavam que o adultério era imoral, mas escusavam-no com uma doutrina falsa sobre o divórcio (Mateus 19.9). Condenavam a idolatria, mas consideravam correto o uso de artefatos idólatras para fins comerciais e não viam problemas em apropriar-se deles como saque (v.22). Desse modo, os judeus hipócritas davam mau testemunho levando as pessoas a blasfemarem contra Deus (v.24)[11]. 


Assim, um hipócrita é alguém que (i) se orgulha soberbamente de sua santidade exterior; (ii) condena o pecado nos outros, mas não olha para seus próprios pecados (confira: Mateus 7.1-5); (iii) não considera seus comportamentos imorais como pecado, ao invés disso racionaliza-os e arruma desculpas para cometê-los sem que isso lhes afete a consciência e (iv) dão um mau testemunho levando os descrentes a blasfemarem contra Deus. Um pecador verdadeiramente arrependido não se encaixa nessas características e, portanto não deveria deixar que o sentimento de vergonha e hipocrisia prejudicasse seu zelo e sua dedicação a Deus.

DÚVIDAS SOBRE A PRÓPRIA SALVAÇÃO

Todo cristão deve lutar para ter plena certeza da sua salvação de forma que possa servir melhor a Deus. Veja como o Catecismo Maior de Westminster trata essa questão na pergunta 81:

Têm todos os crentes sempre a certeza de que estão no estado da graça e de que serão salvos?
A certeza da graça e salvação, não sendo da essência da fé, crentes verdadeiros podem esperar muito tempo antes do consegui-la; e depois de gozar dela podem sentir enfraquecida e interrompida essa certeza, por muitas perturbações, pecados, tentações e deserções; contudo nunca são deixados sem uma tal presença e apoio do Espírito de Deus, que os guarda de caírem em desespero absoluto.[12]

Calvino escreveu:

“Nós, de fato, enquanto ensinamos que a fé deve ser certa e segura, não imaginamos alguma certeza que jamais possa ser tangida por alguma dúvida, nem uma segurança que não possa ser atingida por alguma inquietude; senão que, antes, dizemos que os fiéis têm perpétuo conflito com sua própria desconfiança. Tão longe está de que coloquemos sua consciência em algum plácido repouso, o qual não seja absolutamente importunado por nenhuma perturbação! Todavia, por outro lado, de qualquer maneira que sejam afligidos, negamos que decaiam e se apartem daquela segura confiança que conceberam da misericórdia de Deus.”[13]

Em momentos de dúvidas quanto à nossa salvação devemos orar a Deus para que nos dê essa certeza (1 João 5.13-15). Um pecador arrependido que sente dúvidas quanto à sua própria salvação não precisa se desesperar:

“Há pessoas que não sentem fortemente a fé viva em Cristo, nem confiança firme no coração, nem boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso elas usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Elas não devem se desanimar quando a reprovação for mencionada nem contar a si mesmos entre os reprovados. Pelo contrário, devem continuar diligentemente no uso destes meios, desejando ferventemente dias de graça mais abundante e esperando-os com reverência e humildade. Não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina da reprovação os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a Ele e serem libertos do corpo de morte, mas ainda não podem chegar no ponto que gostariam no caminho da piedade e da fé. O Deus misericordioso prometeu não apagar a torcida que fumega, nem esmagar a cana quebrada. Mas esta doutrina é certamente assustadora para os que não contam com Deus e o Salvador Jesus Cristo e se entregaram completamente às preocupações do mundo e aos desejos da carne, enquanto não se converterem seriamente a Deus.” – Cânones de Dort 1.16[14]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredito que as questões consideradas neste artigo são de grande relevância para se lidar com sentimentos de culpa e seus efeitos. O cristão deve ter em mente que nesse mundo ele progride gradualmente num processo de santificação. Cada cristão enfrenta uma luta diária contra suas tendências pecaminosas. Esse processo, embora seja de progresso, não é linear, de modo que cristãos genuínos podem cair mesmo em pecados graves nessa caminhada. Sempre que fracassar, o crente deve buscar o reconfortante e gracioso perdão aos braços do Pai e estar decidido a abandonar seus pecados (Hebreus 4.14-16; 1 João 1.9; 2.2; Provérbios 28.13). É dever e responsabilidade de todo crente fazer morrer tudo o que pertence à sua natureza terrena (Colossenses 3.5). Finalizo com uma declaração da Confissão de Fé de Westiminster:

“O mui sábio, justo e gracioso Deus muitas vezes deixa por algum tempo seus filhos entregues a muitas tentações e à corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e dolo dos seus corações, a fim de que eles sejam humilhados; para animá-los a dependerem mais intima e constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecar, para vários outros fins justos e santos”. (CFW V.V)[15]

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Notas:
[1] Joel Beeke – A doutrina da eleição – o arrependimentohttp://www.os-puritanos.com/single-post/2015/12/01/O-Arrependimento-%C2%BB-Joel-Beeke
[2] Bible Hub: http://biblehub.com/hebrew/5800.htm
[3] Charles Spurgeon – Lançai for a o medo:
https://www.projetospurgeon.com.br/2012/01/lancai-fora-o-medo/
[4] Augustus Nicodemus – Arrependimentohttps://www.youtube.com/watch?v=ODJrUrslZfs
[5] Confissão de Fé de Westminsterhttp://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm
[6] Louis Berkhof (2012). Manual de doutrina cristã. São Paulo: Cultura Cristã, p. 63.
[7] Paul Maxwell – 7 Coisas a se fazer depois de olhar pornografia:
http://reformados21.com.br/2016/07/18/7-coisas-a-se-fazer-depois-de-olhar-pornografia/
[8] Franklin Ferreira & Alan Myatt (2007). Teologia Sistemática - VIDA NOVA, p. 624.
[9] Confissão de Ausburgo
http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_augsburgo.htm
[10] Stephen Kaung – Vendo Cristo no Evangelho:
http://www.preciosasemente.com.br/artigo.php?id=154&secao=1
[11] Augustus Nicodemos – A Hipocrisia e Seus Efeitoshttps://www.youtube.com/watch?v=HLSN6cAPMlk&t=39s
[12] Catecismo Maior de Westminster:
http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm
[13] João Calvino. Institutas III.II.17, pp. 41-42:
http://www.protestantismo.com.br/institutas/joao_calvino_institutas3.pdf
[14] Cânones de Dorthttp://www.monergismo.com/textos/credos/dort.htm
[15] Confissão de Fé de Westminsterhttp://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm

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Autor: Bruno dos Santos Queiroz
Divulgação: Bereianos
http://bereianos.blogspot.com.br/2017/05/como-lidar-com-sentimentos-de-culpa.html

sábado, 10 de junho de 2017

Uma reflexão sobre Salvação! Quem escolhe, nós ou Deus?


Quem escolhe? Deus ou nós?Por: Tiago Vieira
Essa pergunta tem levantado acirrados debates teológicos. Somos nós que escolhemos ser salvos ou é Deus, em Sua soberania, que escolhe quem Ele quer? Será que todos têm oportunidade de salvação? A princípio talvez sua resposta seja: "somos nós que escolhemos, afinal todos tem oportunidade". Mas será que é isso mesmo que a Bíblia ensina? Vamos analisar os textos bíblicos e depois você poderá responder com mais precisão.
A Bíblia não diz que Deus amou o mundo? Sim, com certeza!
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16 RA
E amar o mundo não significa escolher todas as pessoas do mundo?
Não! Veja o que Jesus falou sobre seus discípulos:
“Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês.” João 15:19 NTLH
Então não somos nós que escolhemos a Deus? É Ele que nos escolhe?
Exatamente. Assim Ele diz:
“Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto e que esse fruto não se perca.” João 15:16a NTLH
Quando Ele nos escolheu? Antes da criação do mundo.
"Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa..." Efésios 1:4 NTLH
Mesmo sendo Deus que nos escolheu, será que Ele não nos escolheu por que sabia das
nossas obras futuras?
Não, pois a salvação não depende das nossas obras, mas sim do plano e da graça de Deus.
"Deus nos salvou e nos chamou para sermos o seu povo. Não foi por causa do que temos feito, mas porque este era o seu plano e por causa da sua graça. Ele nos deu essa graça por meio de Cristo Jesus, antes da criação do mundo." 2 Timóteo 1:9 NTLH
Tem algum exemplo na Escritura que mostre isso?
Sim, Jacó e Esaú são um bom exemplo de que Deus não leva em consideração as obras de ninguém na hora de escolher.
"Mas, para que a escolha de um deles fosse completamente de acordo com o plano de Deus, o próprio Deus disse a Rebeca: “O mais velho será dominado pelo mais moço.” Disse isso antes de eles nascerem e antes de fazerem qualquer coisa, boa ou má. Assim ficou confirmado que é de acordo com o seu plano que Deus escolhe aqueles que ele quer chamar, sem levar em conta o que eles tenham feito. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Eu escolhi Jacó, mas rejeitei Esaú.” Romanos 9:11 e 12 NTLH
Amar um e rejeitar outro antes de nascerem não é uma grande injustiça de Deus?
De modo nenhum. Veja:
"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia." Romanos 9:14-16
Que direito Deus tem pra agir assim?
O direito que o Criador tem sobre aquilo que Ele cria.
"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?" Romanos 9:20 e 21
Mas por que Deus escolhe uns e não escolhe outros?
Porque quer mostrar o seu poder sobre os vasos da ira e também mostrar a sua glória nos vasos de misericórdia.
"E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?" Romanos 9:22-24 RC
Acho que Deus pode escolher pessoas para muitas coisas, mas não para a salvação.
Onde a Bíblia diz que é escolha para a salvação?
Em várias passagens das Escrituras, veja um exemplo:
"Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Tessalonicenses 2:13 e 14 RA
Será que não foi por que eu quis buscar a Deus que Ele me deu a salvação?
Não, pois o homem natural, afastado de Deus, nunca o busca. Como está escrito:
"Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." Romanos 3:10-12 RC
Sim, mas eu tive fé. A minha fé não veio antes da escolha de Deus?
Não! Primeiro é preciso que Deus escolha a pessoa, para que então ela tenha fé.
"Pois esta é a ordem que o Senhor Deus deu a nós, o seu povo: “Eu coloquei você como luz para os outros povos, a fim de que você leve a salvação ao mundo inteiro.” Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna." Atos 13:47 e 48 NTLH
Mas a fé é minha ou é um dom de Deus?
A fé é um dom de Deus!
"Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu." Romanos 12:3 NTLH
E o meu arrependimento?
Até o arrependimento tem que ser concedido por Deus.
"E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos." 2 Timóteo 2:24-26 RC
Então ninguém pode ser salvo se Deus não permitir?
Exatamente. Foi isso que Jesus falou.
"E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido." João 6:65 RA
Há mais textos que falam isso?
Sim. Veja:
"Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim; e de modo nenhum jogarei fora aqueles que vierem a mim. Pois eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum daqueles que o Pai me deu se perca, mas que eu ressuscite todos no último dia." João 6: 37-39 NTLH
Então por que Jesus falou até por meio de parábolas? Não foi pra que todas as pessoas
pudessem entender Sua mensagem?
Muito pelo contrário, Ele usou parábolas justamente para que os que não foram eleitos não entendam, não se arrependam e, conseqüentemente, não sejam perdoados.
"Jesus disse a eles: —A vocês Deus mostra o segredo do seu Reino. Mas para os que estão fora do Reino tudo é ensinado por meio de parábolas, para que olhem e não enxerguem nada e para que escutem e não entendam; se não, eles voltariam para Deus, e ele os perdoaria." Marcos 4:11 e 12 NTLH
Eu nunca tinha visto as coisas dessa forma. Pode-me mostrar mais textos que mostrem isso?
Sim. O apóstolo Paulo, após falar sobre o povo de Israel e mostrar que mesmo dentro do povo escolhido haviam escolhidos, fala sobre a época da igreja:
"A mesma coisa também acontece agora, isto é, por causa da graça de Deus, ainda existe um pequeno número daqueles que ele escolheu. Essa escolha se baseia na graça de Deus e não no que eles fizeram. Porque, se a escolha de Deus se baseasse no que as pessoas fazem, então a sua graça não seria a verdadeira graça. E isso quer dizer que não foi o povo de Israel que encontrou o que estava procurando. Quem encontrou foi apenas um pequeno grupo que Deus escolheu; os outros não quiseram ouvir o chamado de Deus. Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Deus endureceu o coração e a mente deles; deu-lhes olhos que não podem ver e ouvidos que não podem ouvir até o dia de hoje.' " Romanos 11:5-8 NTLH
Deus endurece o coração e a mente das pessoas?
Sim, Ele endurece o coração e a mente de quem quer quando isso é necessário para cumprir Seu plano.
"Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados." João 12:40 RA
Pode mostrar algum exemplo disso na Bíblia?
Sim. Faraó é um bom exemplo de alguém que teve o coração endurecido por Deus.
"Porém o SENHOR endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito a Moisés." Êxodo 9:12 RC
"Porque, como está escrito nas Escrituras Sagradas, Deus disse a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu pus você como rei, para mostrar o meu poder e fazer com que o meu nome seja conhecido no mundo inteiro.” Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer e endurece o coração de quem ele quer." Romanos 9:17 e 18 NTLH
Tenho uma dúvida: Judas Iscariotes era um escolhido?
Não, Judas não era um escolhido. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus fala que eles foram escolhidos, exceto Judas.
"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o empregado não é mais importante do que o patrão, e o mensageiro não é mais importante do que aquele que o enviou. Já que vocês conhecem esta verdade, serão felizes se a praticarem. —Não estou falando de vocês todos; eu conheço aqueles que escolhi. Pois tem de se cumprir o que as Escrituras Sagradas dizem: 'Aquele que toma refeições comigo se virou contra mim'. Digo isso a vocês agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam que 'EU SOU QUEM SOU'." João 13:16-19 NTLH
Pedro fala que Judas se desviou para ir para o seu próprio lugar.
“E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.” Atos 1:24 e 25 RC
Isso quer dizer que algumas pessoas já estão predestinadas para a condenação? Veja:
“Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.” Judas 4 RC
Se é assim, então quer dizer que Deus criou essas pessoas para serem condenadas? Exatamente.
“O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.” Provérbios 16:4 RC
Existem muitos escolhidos? Jesus disse que não.
"Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Mateus 22:14 RC
E os escolhidos podem perder a salvação?
Não, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus, e nada pode nos separar do amor de Deus, pois é Ele que nos justifica.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar." João 10:27-29 RA
"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor." Romanos 8:38 e 39 RA
"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica." 
Romanos 8:33 RA
Mas há pessoas que abandonaram a fé cristã. Elas não perderam a salvação?
Não, pois na verdade nunca foram salvas. A Bíblia diz que são como porcas que foram lavadas e voltaram para a lama. Jesus diz que nunca conheceu essas pessoas. Mesmo que tenham feito milagres, expulsado demônios e profetizado em Seu nome, nunca foram Dele.
"Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. Pois teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: 'O cachorro volta ao seu próprio vômito' e 'A porca lavada volta a rolar na lama'." 
2 Pedro 2:20-22 NTLH
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade."Mateus 7:21-23 RA
E o que acontecerá com aqueles que morreram sem conhecer a Palavra de Deus?
Perecerão, pois a única forma de salvação é a fé em Cristo.
"Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados." Romanos 2:12 RC
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." João 14:6 RA
"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos." Atos 4:12 RA
Pode citar mais textos que falam sobre o assunto?
Sim. Aí estão:
"... havendo sido predestinados, conforme o propósito d’Aquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória ..."
Efésios 1:11-12
"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder ... e vós fostes feitos nossos imitadores ..."
1 Tessalonicenses 1:4-6
"... tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus ..." 2 Timóteo 2:10
"... segundo a fé dos eleitos de Deus ..." Tito 1:1
"Mas vós sois a geração escolhida ... o povo adquirido ..." 1 Pedro 2:9
"... vencerão os que estão com Ele, chamados, e eleitos, e fiéis." Apocalipse 17:14
"Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste." João 17:2
"Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la." Efésios 2:8 e 9
"... o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam." Atos 18:27
"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." Romanos 8:28-30
"Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível". Mateus 19:25 e 26
"Para ele, os seres humanos não têm nenhum valor; ele governa todos os anjos do céu e todos os moradores da terra. Não há ninguém que possa impedi-lo de fazer o que quer; não há ninguém que possa obrigá-lo a explicar o que faz.” Daniel 4:35
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.” Isaías 45:7
"Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar." Mateus 11:27
"Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."
Filipenses 2:13
Nesse estudo aprendemos que é Deus quem nos escolhe, e nos escolhe entre as pessoas do mundo. Descobrimos que Ele opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, que é poderoso para endurecer o coração de quem quer, e ter misericórdia de quem quer, pois, assim como um oleiro, Ele tem poder sobre o barro para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra, segundo a Sua vontade.
Vimos também que a escolha foi feita antes da criação do mundo, e não levou em conta as nossas obras, nem boas nem más. Deus fez Sua escolha de acordo com o Seu plano. O homem natural não pode nem quer buscar a Deus, pois a própria fé é um dom de Deus, e o arrependimento tem que ser concedido por Ele.
Aqueles que o Pai deu a Jesus inevitavelmente irão a Ele, e os que vão a Ele jamais serão lançados fora. Os eleitos nunca perecerão, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus e da mão do Pai.
Espero que você seja fortalecido na fé em saber que é de Deus que depende a nossa salvação, e que Ele merece todo o crédito e todo o mérito pela obra realizada em nós.

Glória somente a Deus!

DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO - AUGUSTUS NICODEMUS


quarta-feira, 7 de junho de 2017

A oração na madrugada é mais eficaz por que a fila é menor?


Por Leonardo Dâmaso



Introdução

No cenário evangélico pentecostal e neopentecostal, existe uma crença muito “popular” de que a oração na madrugada é “mais forte” do que a oração feita em outros períodos do dia. Muitos cristãos afirmam categoricamente que na madrugada a “fila é menor” para se falar com Deus, uma vez que são poucos os que mantêm certo hábito de orar nesse período que se dá entre a meia noite e o amanhecer. Em vista disso, pela “fila ser menor” na madrugada, Deus responde as orações de forma mais rápida nas mais variadas bênçãos pedidas. A razão de Deus abençoar mais rápido àqueles que mantêm este hábito ou disciplina de oração, dizem os pastores e cristãos pentecostais e neopentecostais, é porque está declarado em Provérbios 8.17 que “Deus” ama os que o amam, e os que de madrugada o buscam o acharão. (ARC) 
    
Quanto ao horário específico para as orações na madrugada variam. Muitos cristãos gostam de orar às 3:00 horas. Entretanto, a maioria crê que um dos melhores horários para se orar é a partir da meia noite. Para ratificar esta ideia [de que a oração na madrugada é “poderosa”], os cristãos recorrem também a outro texto da Escritura, dessa vez descrito no Livro de Atos 16.25-26. É relatado que Paulo e Silas, por pregarem o Evangelho na cidade de Filipos (At 16.11-24) foram presos. No cárcere, por volta da meia noite, é dito que Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (ARA) Portanto, o texto de Provérbios 8.17, juntamente com Atos 16.25-26 é a “base” de que oração na madrugada é eficaz, pois desemboca em bênçãos extraordinárias e instantâneas, como foi no caso de Paulo e Silas.      
  
Não obstante, o meu intuito neste artigo não é declarar através de argumentos hermenêuticos e teológicos que a oração no período da madrugada, independente do horário específico, seja errada nem, tampouco, pecado. Claro que não! Pelo contrário, como cristãos, devemos estar orando diariamente, constantemente. A comunhão com Deus que decorre de uma vida de oração é fundamental e necessária em todos os horários do dia! Portanto, quero enfatizar neste artigo (1) a interpretação correta dos textos supracitados em contraste com a interpretação equivocada feita por muitos pastores e cristãos sinceros, por sinal; e (2) destronar o misticismo da crença popular evangélica pentecostal e neopentecostal de que a oração ou a madrugada possui algum tipo de poder ou fluir especial do qual emana as bênçãos divinas instantâneas.

Explanação

Será, então, que Provérbios 8.17 e Atos 16.25-26 corroboram a oração na madrugada e o horário da meia noite como algo “mágico” e “poderoso” como afirmam muitos pastores e cristãos? Vejamos:

Análise de texto

Provérbios 8.17 – Eu amo os que me amam, e os que de madrugada me buscam o acharão... (ARC)  

A sabedoria é um dos principais temas no livro de Provérbios. Do capítulo 1.8 até 9.18, vemos um esboço compilado de conselhos breves e diretos que expressam a sabedoria divina e eterna. O objetivo destes conselhos divinos, todavia, é levar o leitor a refletir em como aplicá-los nas diversas situações da vida obedecendo-os.

Nos capítulos 8 e 9 a sabedoria é atribuída aos homens. No capítulo 8 “ela está disponível para os mais simples (8.2, 5), mas também é profunda: se o próprio Deus não fez nada sem sabedoria (8.22-31), quem somos nós para tentar orientar as nossas próprias vidas sem ela?”1 Personificada como uma mulher no capítulo 8, a sabedoria, agora, no capítulo 9, “é contrastada com a mulher louca. Elas têm métodos similares, pelo fato de que ambas se assentam nos lugares mais conspícuos da cidade (8.2-3; 9.3, 14) e convidam os simples (8.6; 9.5, 16). A sabedoria oferece recompensas que são mais valiosas do que qualquer tipo de riqueza (8.10-11, 18-19), ao passo que a mulher louca recomenda a doçura das “águas roubas” e a suavidade do pão comido às ocultas (vs.17). As consequências conectadas com estas escolhas são completamente opostas. Os convidados da Sabedoria recebem muitas bênçãos (8.34-35), mas os que se voltam para a loucura perecem e estão nas profundezas do inferno (vs.18).”2  

Via de regra, o capítulo 8 descreve a excelência da sabedoria. O trecho que vai dos versículos 14-21 realça não os beneficiados (vs.14-17) e as bênçãos (18-21) de buscar a sabedoria, mas, contudo, a própria sabedoria. Os pronomes pessoais – eu e me, e o pronome possessivo meu, são enfáticos e se referem à sabedoria. Entretanto, o seu amor é experimentado pelas bênçãos de quem a recebe (vs.18-21). Quanto às bênçãos da sabedoria, certamente elas são de caráter material (3.16; 22.4) e espiritual, embora o aspecto espiritual predomine. Acerca do caráter espiritual das bênçãos da sabedoria, Derek Kidner ressalta que

Se os homens em posição de autoridade (vs.15-16) precisam de sabedoria, é visando a justiça, e não as vantagens. Se ela confere riquezas (vs.18), estas se vinculam com a honra e a justiça (embora justiça possa ter seu significado secundário, “prosperidade” no versículo 18, forçosamente tem seu sentido primário e moral no versículo 20). O versículo 19 deixa a questão fora da dúvida, e vai ainda além dos versículos 10-11. A sabedoria não somente é excelente do que o ouro, assim como a fonte toma procedência sobre o produto; o próprio produto (fruto) da sabedoria é melhor do que o ouro.3

Diante disso, a expressão eu amo os que me amam descreve simplesmente o amor que a sabedoria possui por aqueles que a amam, buscam e desfrutam de suas bênçãos. Provérbios 8.17 não faz menção alguma da oração na madrugada e, tampouco, apoia a crença mística de que, na madrugada, a fila para a oração é menor e que ela possui um poder maior e mágico em relação à oração feita no dia e que Deus a responde de modo rápido. Por outro lado, a sabedoria tem a ver com a graça de Deus, ou seja, é o próprio Jesus, o qual se declarou como a encarnação da sabedoria divina (Mt 11.19; Lc 11.49-51; Jo 6.35; 1Cor 1.24-25; Pv 2.4-5; 3.13-15). Um das melhores traduções para Provérbios 8.17, contudo, seria – Eu amo os que me amam; os que me procuram me acharão (ARA), excluindo, assim, o substantivo feminino madrugada. As outras traduções similares também são a da Almeida Século 21, da NVI e da BJC. 

Análise de texto

Atos 16.25-26 – Por volta da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (ARA)

Paulo e Silas foram para a cidade de Filipos evangelizá-la, permanecendo lá por alguns dias (16.11-12). Através da pregação de Paulo e de seus auxiliares e companheiros de viagem – Silas, Timóteo e Lucas, uma mulher, vendedora de púrpura, chamada Lídia foi convertida pelo Senhor (16.14-15). O evangelismo ocorreu por toda a cidade. Por conseguinte, quando estavam indo orar em certo local, Paulo e seus companheiros se depararam com uma jovem possessa de um espírito de adivinhação que os seguiam já por alguns dias importunando-os com gritos (16.17). Simon Kistemaker afirma que é provável que os gritos da moça fizeram com que muita gente se reunisse e ouvisse Paulo e seus amigos. Todos podiam ouvir a mensagem de salvação. Mas os contínuos gritos da moça passaram a ser um estorvo para o apóstolo na pregação do evangelho, e o transtorno o perturbou de maneira tal que ele teve de intervir e se dirigir ao demônio que habitava a moça.4 Desse modo, Paulo exorciza a jovem e ela fica liberta da atuação demoníaca em sua vida (16.16-18). 

No entanto, aquela jovem, antes de ser liberta das garras de satanás, era explorada e trabalhava como adivinha para pessoas que lucravam com o misticismo que predominava em Éfeso (16.16). Sendo assim, quando Paulo exorcizou o espírito que dominava aquela jovem pitonisa, exorcizou também a fonte de renda daqueles que a exploravam,e presumimos que ela recebeu o dom da salvação e se tornou membro da igreja filipense.6

Em vista disso, sendo levados às autoridades da cidade de Filipos pelas pessoas que exploravam a jovem, Paulo e Silas foram presos (16.24). Então, perto da meia noite, enquanto oravam e louvavam a Deus, ocorre um terremoto e a prisão em que estavam é destruída. Deus intervém poderosamente neste evento singular na história para um duplo propósito: libertar Paulo e Silas da prisão e converter o carcereiro e sua família (16.27-35). 

Assim como em Provérbios 8.17, Atos 16.25-26 também não sustenta o misticismo de que a oração à meia noite ou perto dela desemboca em bênçãos instantâneas e extraordinárias. O texto não ensina que a oração ou o horário próximo à meia noite é um tipo de receita mágica para que ocorram os “terremotos da libertação onde as cadeias da nossa vida ruem”, conforme pressupõe os pentecostais e neopentecostais em sua maioria, claro, com algumas exceções. O propósito da intervenção sobrenatural de Deus através deste um terremoto foi (1) Libertar Paulo e Silas para que estes pudessem evangelizar as regiões ainda não evangelizadas (veja At 16.6-12) e (2) que através desta intervenção miraculosa de Deus o carcereiro, espantado, e sua família, pudessem ouvir o evangelho através de Paulo cressem e fossem salvos, o que, de fato, ocorreu (At 16.27-34). Contudo, não estou dizendo também que Deus não possa intervir soberanamente de forma imediata na vida de um cristão que ora de forma sincera na madrugada à meia noite. Deus pode, sim, contanto se for de sua vontade (1Jo 5.14-15), abençoar um cristão em 24 ou 48 horas após uma oração feita na madrugada, por exemplo. Porém, isso não é uma regra normativa de Deus onde ele sempre abençoa os que oram na madrugada ou por volta da meia noite.

Conclusão

Não há em toda a Escritura um horário específico de oração que Deus tenha determinado ser “especial”, onde responde com bênçãos extraordinárias e instantâneas, e que a fila para a oração seja menor na madrugada. Antes, vemos que Deus nos orientou em sua palavra que devamos praticar a oração de forma constante, sem cessar, como uma disciplina devocional em nossa vida (1Ts 5.17). Isso, portanto, pode e deve ser feito em qualquer horário. O poder não está na oração e no horário em que são feitas, mas no Deus que ouve e responde as orações em bênçãos espirituais e, também, materiais. A oração é um meio de graça que Deus nos proporcionou para nos mantermos em comunhão profunda com Ele. O cristão que não vive em oração não vai desfrutar das bênçãos da oração. A oração nos desapega das coisas supérfluas desse mundo, nos leva cada vez para mais perto de Deus e nos faz desfrutar da alegria da salvação em Cristo Jesus. Que possamos “viver” em oração!  

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Notas:

1. Bíblia de Estudo Palavra Chave – Hebraico e Grego. Notas de Rodapé, pág 679-680.
2. Ibid.
3. Derek Kidner. Provérbios. Introdução é Comentário – Vida Nova, pág 75.
4. Simon Kistemaker. Atos, volume 2, pág 133.
5. Hernandes Dias Lopes. Atos, pág 305.   
6. Simon Kistemaker. Atos, volume 2, pág 133.

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Fonte: Bereianos
http://bereianos.blogspot.com.br/2014/03/a-oracao-na-madrugada-e-mais-eficaz-por.html